23 fevereiro, 2014

Por que casar?

 Não sou a melhor pessoa para abordar o sentido do casamento. Até porque não pretendo exaurir o assunto. Adianto que não sou exemplo de religiosidade. Acho prudente enfatizar isso já que, naturalmente, ao falarmos sobre casamentos, instintivamente nossas mentes nos remetem a vestidos brancos, igrejas, altares, padres, pastores, padrinhos, buquês e todo o restante abrangido pelo kit-casamento. Não é o que vemos nas novelas?

O porquê da existência deste texto? Basicamente o fato de que uma amiga irá se casar em fevereiro de 2014. Tenho acompanhado os preparativos pelo que ela externa: desde a preocupação com o vestido, igreja, cerimônia, músicas e até com a burocracia. Tudo isso me leva a pensar a respeito do assunto e tecer algumas considerações.

Mesmo que muitos relativizem a importância de um casamento, isso é coisa séria! Afinal de contas, quando é que se tem a certeza de que aquele é o indivíduo com quem você pretende passar o resto da vida?

É comum vermos a união de duas pessoas não por uma questão de conveniência (desconsiderando-se as exceções), mas sim de convivência, sentimentos, afinidades (e até divergências). É possível aprender bastante um com o outro e, mesmo na distância, sentir-se vestido pelo sentimento de união.

Em uma visão pessoal, creio que se propor a um relacionamento é, também, um exercício de paciência. Há ocasiões em que uma parte cede em favor de um bem maior. E quando as divergências se tornam nítidas, conversas e consensos se fazem necessários para que o “problema” seja exaurido. Ao contrário do que muitos pensam, não é estritamente desgastante, mas sim uma questão de prioridades. Quando se prioriza um relacionamento, algum motivo forte está implícito. Um sentimento maior que aglomera tantos outros e que torna ínfimo quaisquer eventuais desentendimentos.

Propor-se a um relacionamento pode parecer incoerente, já que se torna possível aprender a amar até os defeitos do outro. O companheiro se torna perfeito, ainda que eivado de imperfeições. Acredito que o conceito de perfeição não é uma subjetividade absoluta e, fazendo um trocadilho, a definição de perfeição não traz um significado perfeito.

No caso em que se tem por objeto a análise de um relacionamento, sob minha ótica e vivência, torna-se um conceito objetivo onde é possível afirmar com propriedade que a pessoa perfeita, que te completa, supre e traz os melhores sentimentos é aquela que te faz aferir, com uma certeza íntima, a existência de um verdadeiro relacionamento. É uma visão objetiva quando externada, mas construída mediante a subjetividade, algo peculiar de cada um.


É comum aprender a admirar o outro não apenas pelo que é dentro do relacionamento, mas pelo que tem sido em diferentes situações. Um relacionamento pode ser fonte de inspiração e instigar a querer ser melhor para o outro. Esse conjunto de sentimentos, paradoxais ou não, muitas vezes sintetizam aquilo que chamamos de amor combinado com o anseio de que tal união perdure por anos. Ao menos a ideia de casamento, ao senso comum, induz a isso.

Penso que a maioria procura um companheiro não somente com a finalidade de constituir família, embora possa ser esta a ideia central que norteie um casamento. Há, em primeiro plano, duas pessoas unidas com um objetivo de vida comum, mas que pode significar algo além disso. Os fundamentos maiores decorrem, também, da relação de segurança, confiança, fuga da solidão, companheirismo, sentimento de amor, carinho, zelo, paixão. É impossível enumerar exaustivamente os motivos, apenas pode-se perceber que eles existem e se sobrepõem à ideia em sentido estrito de apenas constituir família ou formalizar uma relação preexistente.

Ora, depois de algum tempo de relacionamento duradouro, constatado conforme as particularidades, seja pelo tempo de união, seja pela intensidade desta, o que se espera é que a dita união seja formalizada.
Mas por que formalizar?

A princípio, alguns não curtem a ideia de uma união “informal”, embora existam casos em que a simples união, ainda que não submetida a cartório ou cerimônias religiosas, seja muito mais “casamento” do que tantos outros realizados segundo os ritos religiosos ou legais. Mas tal questão também é particular, e é inconcebível para alguns se unirem fora dos ritos comumente aceitos, sejam eles religiosos ou não. Isso abrange um histórico familiar e incumbências morais.

Formalizar implica considerar duas esferas: tanto a legal quanto a cultural/religiosa. É fato que a ideia de casamento, tendo por foco o Brasil, está notoriamente interligada ao fator cultural/religioso, onde duas pessoas se unem combinando os laços afetivos com aqueles que se estendem aos efeitos legais e os laços contratuais.

O casamento, à luz do Código Civil Brasileiro, abrange uma série de procedimentos, prazos, impedimentos, documentos para habilitação, capacidade para contrair o matrimônio, dentre outros fatores para que seja considerado válido. Seria um mero negócio, uma relação contratual, que estabeleceria direitos e obrigações legalmente constituídas entre duas pessoas, com efeito sobre terceiros.

Em uma visão simplista, o casamento seria um contrato firmado entre duas partes. Uma garantia de que os deveres sejam devidamente cumpridos e os direitos respeitados. Esta seria uma ideia vaga sobre a necessidade de formalização.

Mas isso nos remete à aprofundada visão cultural/religiosa, intrínseca no sentido de casamento para muitos. É sabido que a conotação que este atinge busca uma aceitação cultural e, dependendo dos credos de cada um, torna-se algo originariamente divino. Talvez o único método válido de contrair um casamento, restando à esfera civil o cumprimento de formalidades residuais.

Nessa segunda visão temos aspectos bem mais subjetivistas, mas que, consuetudinariamente abarcam muito mais significados do que a formalização de um contrato expresso em um papel que carrega validade jurídica em seu bojo. Não seria o casamento um simples instrumento contratual que vincularia as partes. Diante do exposto acima, notório é que não considero o casamento uma mera assinatura de documentos que vinculam ambas as partes.

O casamento, a meu ver, antes de se considerar os efeitos civis decorrentes de sua realização, se trata de uma aliança construída entre duas pessoas através de objetivos e sentimentos comuns. Casar-se na esfera religiosa pode significar um acontecimento muito mais valioso e digno de ser cumprido do que um rol de obrigações estipuladas no papel. Aos olhos de Deus, com foco Nele quando da realização dos atos matrimoniais (e não somente aos “olhos da lei”), torna-se uma obrigação moral muito mais legítima.

Retomo à tentativa de justificar a necessidade, por outro aspecto, de que o casamento seja formalizado. Sabe-se que o casamento acarreta consequências sociais e legais, que saem da esfera familiar e abrangem terceiros direta ou indiretamente. Está para além do direito sucessório ou da legitimidade para realizar uma série de atos civis. Assegura, também, a ideia de reconhecimento perante determinadas relações sociais/obrigacionais.

Há uma série de pontos de vista que justificariam a ideia de casar, mas nenhum é válido sem que se considere a percepção íntima de quem se propõe a contrair um matrimônio. Ainda que pareça inexplicável, é perfeitamente concebível que o sentido para uma vida feliz a dois se encontre justamente em um casamento. Dessa forma, o questionamento inicialmente proposto não é algo que eu ou você possa traduzir em palavras. É uma certeza que simplesmente acontece e que dispensa tantas outras teses sobre o assunto.

*Texto inspirado em uma pessoa querida que se casará em breve. Marília Rosa, essa é pra você!
Imagem por Débora

Texto de minha autoria originalmente postado no blog DIVERSIDADE CONVERGENTE.

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