03 março, 2009

Correndo atrás da luz


"Quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de harmonia".

William Shakespeare




Os ventos que sopram, em nossas vidas, quase sempre não estão em nossa direção. É preciso descobrir a direção para onde eles sopram, para que possamos sentir o acalanto da brisa em nosso corpo. Não devemos buscar consolo apenas, nem rosas. Devemos buscar forças e o perfume das rosas, porque esses detalhes nos fazem elevar.


Conheço uma breve história de duas pessoas que se encontraram pelo acaso do destino e irei compartilhar aqui neste espaço. Obviamente, apenas conheço a história de um, e será pelo foco dessa vertente que conduzirei esse texto. Ainda que eu transite nos dois, irei me delimitar à visão de apenas um, talvez esse um multiplique-se e seja apenas o reflexo duplo dessa história.

-Darei o nome de ARES (deus da guerra, entendam...tem que ser guerreiro)para enquadrar o personagem principal desse texto e VITÓRIA para o personagem que será fruto da busca de ARES –

O desenrolar tem um cunho mitológico, afinal, minhas raízes dentro da ciência humana afloram num apelo para à história. Sem delongas, entremos nessa história:

As pessoas estão sempre em busca de algo, sempre existe algo a se buscar, mesmo que incessante. Não seria diferente com Ares que, já cansado de travar inúmeras batalhas em busca de se acertar, colocou mais dificuldades ainda para que encontrasse sua amada.

Ares queria ver o amor para entender que tudo nasceria a partir de uma troca. Na verdade, Ares queria deixar o seu campo de batalha e conhecer a paz. Só poderia fazer isso através do amor. Estava disposto a deixar de lado toda sua personalidade destrutiva. Cansado de buscar preencher o vazio com vazio, Ares decidiu sair em busca da essência nas pessoas.

Passou a conhecer diversas pessoas, analisá-las e sempre chegava à conclusão que havia falhado. A essência das pessoas estava sempre submergida, em “águas profundas”. Faltava oxigênio para ir tão fundo, faltava vontade de submergir de si próprio para que outros vissem seu elo tão importante com a vida. Entre uma essência e outra, Ares temia ser mal sucedido, estava num campo adverso ao que estava acostumado a lidar. Ares procurava e , às vezes, era procurado, não tinha chegado ao seu denominador comum.

Ares não sabia que a essência de cada pessoa, muitas vezes, está reservada a quem esta pessoa queira oferecer. As dificuldades cresciam a cada procura. Ares não desistia e conseguiu encontrar uma pessoa com a qual se encantou com sua essência. Ares animou-se, porém, viu que isso estava limitado a ele e que deveria travar uma batalha: a batalha da conquista. Estava definitivamente perdido, não sabia lidar com sentimentos que não fossem os práticos para sua atuação, mas ares sempre se deixava contemplar por essa luz que lhe foi apresentado.

O tempo veio a cobrar, mas a única parte que Ares tinha para demonstrar era que havia encontrado, mas que não estava certo que nesse percurso ele deveria largar todas suas armas e lutar com a única arma da qual ele não fazia uso: o coração. Perdido em si, Ares sentiu fragilizado, à beira da derrota. Acostumado a travar grandes batalhas e sempre experimentar a vitória, por essa vez, se sentiu fadado ao fracasso. Se preparou para bater em retirada, mas antes, precisava olhar novamente para Àquela luz que o encantara.

A procurou mais uma vez, manteve uma distância, pois não era possível se aproximar. Olhou em sua direção e viu àquela luz crescer em sua direção. Se sentiu imóvel, hesitava em se afastar, até que o desafio é lhe proposto. Ares sem nenhum preparo resolve encarar seu destino e percebe que Àquela luz o buscava muito antes dele entrar no campo de batalha. É tomado por uma felicidade tremenda, onde passa a perceber o que jamais havia sentido, treme, sorrir, chora ao ver que àquela luz se transforma na VITÓRIA. A tal luz ganha características humanas para a sua felicidade. Ares se enxerga realizado e pensa não precisar de mais armas, teria vencido a grande e única batalha que sempre quisera vencer.

Vitória era a essência em luz que Ares pretendeu e buscou. Quando alguém vem ao mundo, com certeza, é um dia de alegria para muitos. Mas cada um que nasce absorve um propósito no decorrer da firmação de sua existência, vitória teria a sua. A divina providência resolveu demonstrar para Ares que para manter a Vitória em sua luz, ele precisaria continuar como um deus da guerra travando lutas diárias. Agora não mais pelo êxito individual, mas pelo elo criado entre os dois que ares tomaria sua frente.

Foi então que a luz que emanava em Vitória lhe foi tirada. Vitória sentiu a dor e profunda tristeza, mergulhada em profunda escuridão se encontrava. Ares viu que a cada instante, para rever a luz em vitória, precisaria dá-lhe um motivo para sorrir. Passou a buscar incessantemente em todas as frentes motivos para devolver um sorriso em Vitória.

Ares não deixou de combater, nem Vitória perdeu sua essência que emanava em sua luz. Ares precisava oferecer um sorriso à Vitória para que ela lhe desse o seu brilho e, dessa forma, se mantivera guerreiro e a outra com seu brilho. Ambos oferecendo um ao outro o estimulo necessário para que continuem a se manter em sua essência com amor que se renova a cada dia, em que um vence uma batalha para o outro.


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A razão que nos motivam em buscar a essência das pessoas está justamente na reciprocidade. Você só é forte o suficiente para encarar os obstáculos se estiver bem amparado com a qual lhe ofereça propósitos para continuar, travando dia após dia a mesma batalha. Ares e Vitória são apenas um feixe dentro de um universo que, neste exato momento, translada a realidade que antes jamais se pensaria possível. Essa história já decorre cinco meses, passe o tempo que passar, dias ainda irão nascer e ficará marcada, escrita de uma forma que não se apagará com um simples passar do tempo.

01 março, 2009

Reencontrar o horizonte em si



"I see skies so blue and clouds of white
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself, what a wonderful world"

"Eu vejo os céus azuis e as nuvens tão brancas
O brilho abençoado do dia,e a escuridão sagrada da noite
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso"

What A Wonderful World -Louis Armstrong



Ao subir uma montanha e ao passar por cavernas, que eram esconderijos de homens, um horizonte se mostrou. Não existiam mais esconderijos ali, por vez, parecia o único esconderijo de um horizonte perdido. Há 15 dias o inverno chegara por aquelas bandas. A imensidão seca havia sido coberta por uma camada de gelo e neve. O céu estava azul e contrastava com o branco da neve, mais ao longe uma infinidade, uma infinidade de azul.


A noite chegava rápido e com ela as estrelas. Ninguém mais desceria dali hoje, passariam à noite: agasalhados, sentados, a maioria a dormir. Mas, o azul dera lugar ao escuro que agora contrastava com o brilho reluzente das estrelas. Era um dia de paz, dormir para quê? Deixar os pesadelos de lado e contemplar, contemplar o que o mundo naquele instante oferecia. Cansado, muito cansado por longos dias incessantes de muito fogo e já chegava há dois meses de gritos, dor, choro e solidão.


Sentado num precipício revendo feedback de uma vida deixada para trás que jamais se reencontra. Mas não, não era verdade. Parecia que cada estrela vinha com uma página vivida. As estrelas salvaram o dia. Reencontradas em seus brilhos ofuscantes estavam lembranças. E quanto mais à noite avançava madrugada adentro, mais interessante se mostrava. O inverno traz consigo o silêncio, mas não conseguira calar aquele horizonte que estrondava perante os olhos de quem o contemplava.


Sim, estava encantador, um sorriso descia calorosamente perante o rosto alquebrado por tudo que era dor. A vida aquecia, apesar do mundo frio que estava ali perante sua imagem. E esta noite não existia alternativa que não fosse resgatar tanta coisa perdida. O horizonte era lindo, grande e espaçoso, caberia tudo que se podia querer. Ofegante com o ardor do clima, lembrara que dias atrás estava profundamente abatido, talvez desistido de acreditar que dias encantadores poderiam voltar a ter.


O olhar fixo, pouco fechava e pensava, pensava como àquela noite estava encantadora. A verdadeira alusão do esplendor havia lançado seu feitiço. Enfim, a emoção não era mais uma suplica persistente. Momentos tempestuosos não imperavam por ali, mas sim a liberdade. Poucas nuvens altas chegaram para enfatizar aquele momento e um pequeno sereno acentuou de vez todo o clima. Naquela noite nada era distante, tudo era próximo. Todas as estrelas ouviram teu pensar e estavam tão perto de ti.


Agora era à noite que cedia lugar ao dia, a luz. Seus olhos não havia fechados para descansar naquela noite, pelo contrário, descansaram debruçados naquele aconchegante momento. As estrelas serviram de espelhos e refletiram sua vida. Já podia ouvir o coração acelerar e os olhos brilharem ao amanhecer, as estrelas se apagavam enquanto seus olhos começavam a colher o brilho deixado por elas.


Perante o dia era hora de deixar aquele lugar desabitado por homens e somente ocupado por aquele horizonte. Ao descer tinha a certeza que não deixara nada para trás e sim que cada estrada é longa e que sempre existem montanhas em nossos caminhos, cada uma poderia oferecer um novo horizonte. E que cada dia poderíamos escalá-las em busca de um alento. Pois é lá, lá onde os ventos límpidos e nada mais alvo que a neve podemos encontrar para apaziguar nossa alma. Só lá você ficaria tão longe do mundo e tão próximo de si.

28 fevereiro, 2009

Um dia qualquer

"Porquê tanta procura de ti mesmo,
Tanta dor, tanta ferida por sarar,
Tanta palavra à solta nesse mar
Da alma, em inquieto sofrimento?"

Luísa Veríssimo, in Da Estranheza, 2006.



Mais um dia e o cenário está montado, é hora do show. Pegue sua bagagem da vida, certifique-se que não lhe falta nada. Não demore, nunca demore. Lá fora o Sol arde, queima sem pudor e o tempo urge, antes queimar ao Sol do que esperar que à noite venha com mais incertezas, afinal, em um dia qualquer as horas poucos influem, um dia qualquer, na sua vida, talvez tenha mais de 24 horas.


Embarque sério, não se sinta culpado de ocupar o mesmo destino que outros tomaram junto com você. Olhe nos olhos deles: incertezas, tormentos, aflições, dúvidas, tensão. Aproveite os momentos que te conduzirão ao teu destino. Pode ser que lá te espere um horizonte tão lindo que você tenha a impressão que não está mais vivo, mas, talvez possa ser que o destino seja tão frio e tão escuro que só lhe restará dor, dor em demasia, que não cicatrizam.


Mas você é forte, forjado em aço, resistente às intempéries da vida. O medo é apenas um ingrediente dentro desse desafio. Espere antes de desembarcar, lá fora a chuva não molha, lá fora chove fogo, espere que o fogo cesse então saia, saia correndo, corra o máximo que puder, à vida não espera e nem te dará tempo de refletir parado.


A VIDA COBRA VIDA!


Correndo em silêncio, sem licença para estar ali e sem perdão dali, vá ao teu destino. Não olhe para trás, nem para outras pessoas, apenas as que seguem o mesmo rumo que o seu, o lugar é logo em frente. Prepare-se! Chegar ao destino não é tão fácil como se pensa, existem barreiras, inimigos a espreita e talvez você não chegue ao seu destino. PARE!


O confronto começa aí onde está o seu destino. Agora chegam as interrogações. Não, de forma alguma não as deixe sem respostas. Responda a altura! Depois veja as marcas deixadas do destino, elas que indicarão se você respondeu com fulgor. Talvez a ausência das marcas que emanam do destino e o corpo que se move na solidão não faça o destino mais mágico.


Ah! Você se descuidou? Por um instante você viu uma luz e olhou para o céu, essa luz trazia um som alto, forte, tenebroso, junto a essa luz acometeu de trazer o escuro até você e te tomou. Você está no chão, marcado pelo destino. Não pode levantar-se naqueles instantes, mas não pare de enfrentar seu destino, aja contra ele, enquanto puder. Busque na sombra o lugar para descansar, mas tome cuidado, se à noite chegar não busque na luz o refugio. O destino não se entrega fácil, mas sucumbiu a sua investida.


Não! Não me fale de seus medos, aqui ninguém se importa com você, apenas segure em si mesmo. Nesses instantes não dê lugar a dor. Apesar de tudo você venceu seu destino e está pronto para mais um dia, tudo isso foi só um momento em sua vida. Todavia, não é mais um dia qualquer. Caminhe sem fim para dentro de si, pois amanhã, amanhã é um novo dia de confrontar seu destino.

23 dezembro, 2008

E o "tempo" passou...


Dia desses, enquanto pensava em tudo que me ocorreu nesse ano, algo muito estranho aconteceu: o tempo parou. Subitamente, tudo ficou suspenso: pessoas, relações, sentimentos - foi como se tudo girasse e deixasse de girar em seguida. Até mesmo os ponteiros do relógio ficaram imóveis para mim. Eu era apenas mais uma ocupando um espaço sem nem mesmo me dar conta de que espaço era esse. Os pensamentos eram simples. Desses tantos que eu tenho de como eram as coisas e de como elas serão daqui pra frente após algumas mudanças.

Certo dia me disseram que tenho “problemas” com o tempo. Sim, eu tenho. Sou muito ligada a momentos que passaram e não voltam mais, e talvez por isso, o futuro me assuste tanto. Talvez tenha sido o silêncio, a solidão, a saudade ou apenas minha mente me pregando uma peça. Por alguns milésimos de segundo, senti que meu estado era catatônico. Não sabia aonde ir, aonde ficar, o que fazer e o que pensar. Estava estática.

Fiquei apreensiva e, num piscar de olhos, tudo voltou: os sons, as cores, as formas, o movimento, as velhas lembranças que tanto me acompanham... e o automático relato dessa experiência boba, porém incomum (que alguns podem ver como loucura)!

Não é necessário entender o que está escrito. Por vezes, só eu me entendo no meio de tantas frases confusas. As palavras são mágicas para alguns, para outros não. É tudo uma questão de escolha. Você escolhe ser tocado ou não por meras frases. Talvez não seja escolha. Pode ser uma questão de estado de espírito mesmo.

Os dedos digitam sem parar os pensamentos soltos que meu cérebro envia. Mesmo sendo avulsos, estes pensamentos estão focados em um objeto específico que nem eu mesma consigo descrever. Talvez por ser tão íntimo, ninguém além de mim possa entender.

Sempre quis que o tempo parasse nos momentos mais felizes da minha vida, mas ele nunca parou. E essa continuidade do tempo me fez enfrentar momentos inevitáveis e difíceis. A vantagem é que, mesmo com essa continuidade desenfreada, os momentos felizes continuam eternizados na memória. O problema é que sabendo que momentos felizes passaram, tenho certeza de que o tempo não parou.
Isso me afligiu por um tempo. Ainda me aflige às vezes.

E agora, num dia qualquer, quando ele finalmente “pára”, eu fico: fragilizada, imóvel, com os olhos arregalados e com um olhar vazio... sem fazer nada, além de vagar paradoxalmente na presença da ausência ou ausência da presença. Apenas lembranças, apenas perguntas de como será de agora em diante.
Estive confusa! E por um instante, estive perdida!

17 agosto, 2008

Um monólogo dialógico


Lembra de quando nos conhecemos? Eu sem saber aonde pôr a cara, sorrindo para alguns rostos conhecidos, mas sentindo como se não houvesse ninguém que falasse o mesmo idioma que eu. Você estava logo ali no canto. De vez em quando soltava gostosas gargalhadas com seus amigos (provavelmente falando sobre mulheres), mas logo retomava ao seu silêncio. Aquele silêncio mais esquisito que eu já tinha visto. Cabeça baixa, olhar focado nas bebidas como se isso fosse a coisa mais interessante do mundo. Parecia estudar minuciosamente cada objeto e não aparentava se importar com o fato de seus “chegados” estarem se entupindo de bebidas e “pegando” todas as meninas. E você estava lá, só que como se não estivesse. Parecia estar esperando algo que eu não descobri o quê era. Não sei por que, quis me aproximar, só que não sabia como. Acabei desistindo e voltando à estaca zero: continuei cumprimentando todos os conhecidos, mas não dialoguei com ninguém. Achei melhor me distanciar daquela multidão de risos e gritos e abraços e beijos e fofocas. Preferi ficar do lado de fora do salão, respirando um ar fresco. E você veio logo em seguida, respirando profundamente, olhando para o céu e... Esbarrou em mim.

_Opa! Perdão!
_Não tem problema. Estava mesmo distraído, hein?
_Sim, estava. Mas tudo poderia ter sido evitado se a senhorita estivesse curtindo a festa. O que leva uma pessoa a ficar isolada assim?
_Não sei, na verdade. Que bom que não sou a única.

Voltamos ao salão ainda constrangidos, mas conversamos sobre tudo que alguém normal não falaria em um ambiente tão descontraído. Você me contava alguns de seus feitos e planos e me fazia rir. Sempre teve essa característica: mesmo sério, me fazia sorrir. Num desses sorrisos, você me beijou. Foi um beijo apaixonado complementado por um abraço aconchegante, daqueles que passam segurança, sabe? Daqueles que o mundo poderia estar se explodindo e eu nem ligaria para nada.

Você nunca admitiu ser romântico ao longo dos anos. E eu adorava o seu romantismo sutil. “Olha... Tinha uma senhora vendendo flores, fiquei com pena e comprei. É... pra você!” E dava aquele sorrisinho cínico/ sarcástico. Em seguida, me abraçava forte e me beijava. Eu dizia que te achava fofo e você fingia estar impaciente e sorria como se eu estivesse louca. Mas eu sabia que você estava tímido e achava muita graça nisso (mas ainda achava fofo). O pior é que quando eu as colocava em um jarro com água, você imediatamente gritava histericamente: “Cuidado! Vai afogá-las!”; e me dava um outro abraço aos risos.

Lembra de quando nosso filho nasceu? Éramos atrapalhados e entrávamos em pânico quando tínhamos que trocar as fraldas. Você colocava um pregador de roupas no nariz e dizia que “esse bebê veio estragado”, “isso é uma máquina de fabricação de coco”, “o seu leite deve estar azedo”. Após esse espetáculo, ainda aproveitava o pregador de nariz para encenar uma nadadora de nado sincronizado, aonde o sofá se tornava uma piscina olímpica. Também falava que o nosso filho seria o homem mais lindo do mundo se tivesse meus olhos, o seu nariz, a sua boca e o seu corpo. E completava: “É claro que os olhos serão a parte mais bonita. Não precisa me olhar feio, fofuxa!” E lá estava a sua sonora gargalhada novamente. (O que me surpreende é que nosso filho tem realmente os meus olhos, e se parece demais com você).

Em datas comemorativas, você e nosso filho (como vocês se parecem!), independente do presente que me davam, sempre os traziam acompanhados de flores. Mais uma vez, você disse que reencontrou aquela mesma pobre senhora que vendia flores e, por pena, comprou. Nada que eu tenha merecido, mas, enfim... Ai, como eu tinha vontade de te beliscar quando você sorria cinicamente. Ainda bem que a vontade de te abraçar e te encher de carinho era muito maior.

Nosso filho cresceu, se formou. Tornou-se o rapaz mais atraente e inteligente do mundo. Aprendeu a ser discreto, educado, carinhoso, independente e adorável como você sempre foi. Ainda hoje, ele me manda flores e diz que encontrou aquela mesma senhora que você ajudava, lembra? Até o cinismo é incrivelmente parecido com o seu. Às vezes olho para ele e imagino você mais jovem. Apesar de que... Jovem você nunca deixou de ser. Aquele seu espírito jovem que tanto me agradava sempre esteve intacto, ainda que tacitamente.

Que saudades!

Hoje, meu querido, sou eu que te mando flores. Não, não fico triste por fazer isso. Traz boas lembranças de uma vida feliz ao seu lado. A gratidão que sinto por tanta coisa que aprendi com você, pela cumplicidade, pelo tanto que você me ajudou nos momentos mais difíceis, nas horas difíceis de serem esquecidas. Mas infelizmente, você partiu sem mim.

Nunca fui religiosa, mas sei que um dia eu vou te reencontrar, cedo ou tarde. Apenas sei disso. Vamos superar essa barreira do tempo e do espaço e vamos nos ver em uma nova dimensão. Não haverá mais saudades de uma vida que se foi. Haverá um novo começo sob um novo ponto de vista. Encontrarei-me em teu abraço e retribuirei aquele seu sorriso indescritível novamente um dia...

Um dia!

10 agosto, 2008

Dia dos Pais

Homem simples como criança que sabe rir e chorar.
Sempre atento aos filhos que ama, elogiando-os e corrigindo-os o quanto for necessário.
Meu pai!
Homem forte e honesto sempre pronto a proteger e animar.
Você é a minha segurança.
Sinto-me feliz e tranquila ao seu lado.
Contudo ele não é santo: tem defeitos, fraquezas, limitações e enganos.

Feliz Dia dos Pais...
Uma simples homenagem aos pais, em especial ao meu. Eu o amo muito e deixo aqui registrado.
Abraços fraternos a todos os pais.

14 junho, 2008

O Último Discurso- O Grande Ditador

Charles Chaplin, um gênio em muitos sentidos. Através da arte de fazer rir, toda a sua genialidade transcende.

Em “O grande Ditador”, primeiro filme com som atuado e dirigido por Charles Chaplin, há ênfase na questão da guerra, do nazismo, do fascismo já evidenciada há tempos. A história se desenvolve aludindo, satiricamente, à Hitler e Mussolini; e se encerra com um discurso sincero de liberdade.

O que mais chama a atenção é a atualidade do discurso. Ainda hoje, tudo o que foi levantado é reiterado por todos aqueles que buscam e/ ou acreditam em um mundo mais pacífico, equilibrado, justo e igualitário.

Segue o Discurso:

“Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar - se possível - judeus, o gentio ... negros ... brancos.


Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.


O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem ... levantou no mundo as muralhas do ódio ... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, emperdenidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.


A aviação e o rádio aproximaram-se muito mais. A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem ... um apelo à fraternidade universal ... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora ... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas ... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia ... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem os homens, a liberdade nunca perecerá.


Soldados! Não vos entregueis a esses brutais ... que vos desprezam ... que vos escravizam ... que arregimentam as vossas vidas ... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar ... os que não se fazem amar e os inumanos.


Soldados! Não batalheis pela escravidão! lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Estás em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela ... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo ... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.


É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.


Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergues os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!”
Assista ao Discurso: