04 fevereiro, 2012

Daniel Wagner, O Artista de Rua


Há cerca de dois meses, eu e o Daniel China (colaborador deste blog), temos visitado arredores de nosso local de trabalho durante o horário de almoço, no centro de Brasília/DF. Em uma dessas breves caminhadas encontramos uma das artes mais maravilhosas que poderia existir em um local que é sinônimo de correria, de pessoas ocupadas e contrastes sociais: Daniel Wagner, o Artista de Rua!

Em um cantinho, por trás dos comerciantes, estava Daniel e suas pinturas feitas em azulejos. Impressionante a rapidez, as técnicas, a percepção, o jogo de cores, o claro-escuro, o sombreado e a criatividade desse artista. É o tipo de coisa que nos faz parar e admirar. Cada tela pintada é tão rica em minuciosos detalhes que não nos deixa “cansar” de olharmos.


Para quem conhece Brasília, Daniel está de passagem pela cidade e faz pinturas no Setor Comercial Sul, quadra 03, ao lado das Lojas Americanas, em um vão recheado de vendedores ambulantes. Ao que tudo indica, ele viajará para o Rio de Janeiro e ficará em Copacabana durante o Carnaval, onde dará o ar de sua graça expondo e vendendo sua arte.



No contato que tivemos, soube um pouco de sua história. Daniel é um rapaz de 28 anos, nasceu em Belém-PA e, desde cedo, tem revelado o seu talento para as artes. “Na escola, eu era burro em matemática, era burro em português, mas tirava nota 10 em artes” – disse sorrindo.

Há pouco tempo suas pinturas eram feitas com o uso de spray, conforme se vê neste vídeo:


No entanto, devido a problemas de saúde e após consulta médica, ele ficou impedido de usar este tipo material para confecção de sua arte. Não houve problema para alguém como ele, com talento alternativo e ilimitado. Seu trabalho, atualmente, se volta à pintura em azulejos. Também pinta telas, mas somente por encomenda, pois são mais difíceis de serem vendidas devido ao custo ser um pouco maior. A pintura em azulejos o assegura de um volume maior de vendas e traz maior praticidade às confecções.


Há uma infinidade de temas em suas pinturas, mas sempre se destacam belas paisagens. Neste vídeo há uma breve manifestação de seu trabalho, junto com o de outros artistas de rua.


Daniel viaja por todo Brasil expondo e comercializando sua arte. Suas pinturas são a sua fonte de renda. Certo dia, em uma conversa, ele disse que cada pessoa é boa em alguma coisa, cada um tem o seu dom que só precisa ser descoberto e trabalhado. O dele é o dom da arte. Completou que investe naquilo que é bom e afirmou, sem qualquer hesitação, sua vontade de expressar sua arte por novas fronteiras e ser reconhecido por ela. Já afirmou que não viaja por todos os cantos para ganhar dinheiro, apesar de ser um fator vital para continuar expondo. Em muitas ocasiões ele ressaltou seu amor à arte, que gosta de fazer obras bem trabalhadas e só comercializa obras de qualidade. Não pensa em quantidade, mas em qualidade.


Daniel é um rapaz humilde, carismático, simpático, sempre sorridente e de uma sabedoria imensa. Sente vontade de quebrar barreiras e, através de seu dom, propiciar uma vida melhor para seus pais. Em diversas ocasiões, mencionou sua vontade em melhorar de vida e ajudar sua família.


Dizem que o Brasil é o país do futebol e do Carnaval! Tenho um certo asco dessa definição porque isso limita o país a apenas esses dois tipos de “riquezas”. Mas, de fato, os maiores investimentos culturais do país se voltam, praticamente, ao que foi citado.


Em contrapartida, vejo no Brasil uma infinidade de riquezas tão dignas quanto às já citadas (senão mais) de receberem maiores incentivos; dentre elas, grandes artistas. Daniel é um exemplo vivo de que aqui há diversas manifestações de arte, mas não existe a devida instigação, sobretudo por parte do governo.


Fico pensando que se este rapaz, assim como tantos outros, pudesse ter a oportunidade de estudar e aperfeiçoar seu dom através de um patrocínio do próprio Estado, a cultura do país se sobressairia muito no quesito “arte”. Admiro-me (negativamente) com a inversão de valores, a banalização de temas que deveriam ser considerados como dádivas e o culto a idiotices e futilidades. Neste contexto, é nítido que vários talentos são desperdiçados ou só encontram reconhecimento quando se encontram fora de seu país de origem. E o que acontece? O país PERDE pessoas únicas, a CULTURA do país perde riquezas insubstituíveis por falta de investimento.


Este post é apenas uma forma de reconhecer, divulgar e mostrar minha profunda admiração pelo trabalho de Daniel Wagner: uma pessoa simples e, ao mesmo tempo, muito rica em talento, ensinamentos e experiência de vidas. Um rapaz batalhador que não mede esforços para correr atrás de seus sonhos, que merece muito mais do que vender belíssimas obras de arte a preço de banana. Alguém que merece ser valorizado não apenas como artista, mas como exemplo de pessoa!


Abaixo seguem algumas aquisições feitas por mim e pelo Daniel China. Nós dois juntos já compramos cerca de 30 azulejos com os mais variados temas. Como forma de não banalizar sua arte e não facilitar o plágio por parte de outros pintores, a divulgação será limitada. Trata-se apenas de uma amostra de tamanho talento: Daniel Wagner, o artista de rua!



Um comentário:

  1. Foi um achado, em meio à camelôs, drogados, panfleteiros, sujeira e movimentação, eis um cidadão sentado, cabeça baixa =focando o azulejo, as tintas, sem anunciar venda, sem convidar ninguém, deixando que os interessados se cativem pela arte e adquiram ao seu interesse. A vida é muito engraçada, pessoas que vivem em desertos costumam dizer que algo que "frutificar em meio à sequidão árida do deserto, é porque ali existe um sinal de Deus", é... é por aí... em meio a um lugar onde vc não podia esperar quase nada, você se depara com coisas únicas, a arte propriamente dita. Como ele mesmo falou, eu coloco minha alma na arte. Fico imaginando se o Brasil oferecesse uma educação de qualidade para o seu povo, o Daniel que mal frequentou uma escola, seria um gênio nas artes.

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