01 março, 2009

Reencontrar o horizonte em si



"I see skies so blue and clouds of white
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself, what a wonderful world"

"Eu vejo os céus azuis e as nuvens tão brancas
O brilho abençoado do dia,e a escuridão sagrada da noite
E eu penso comigo... que mundo maravilhoso"

What A Wonderful World -Louis Armstrong



Ao subir uma montanha e ao passar por cavernas, que eram esconderijos de homens, um horizonte se mostrou. Não existiam mais esconderijos ali, por vez, parecia o único esconderijo de um horizonte perdido. Há 15 dias o inverno chegara por aquelas bandas. A imensidão seca havia sido coberta por uma camada de gelo e neve. O céu estava azul e contrastava com o branco da neve, mais ao longe uma infinidade, uma infinidade de azul.


A noite chegava rápido e com ela as estrelas. Ninguém mais desceria dali hoje, passariam à noite: agasalhados, sentados, a maioria a dormir. Mas, o azul dera lugar ao escuro que agora contrastava com o brilho reluzente das estrelas. Era um dia de paz, dormir para quê? Deixar os pesadelos de lado e contemplar, contemplar o que o mundo naquele instante oferecia. Cansado, muito cansado por longos dias incessantes de muito fogo e já chegava há dois meses de gritos, dor, choro e solidão.


Sentado num precipício revendo feedback de uma vida deixada para trás que jamais se reencontra. Mas não, não era verdade. Parecia que cada estrela vinha com uma página vivida. As estrelas salvaram o dia. Reencontradas em seus brilhos ofuscantes estavam lembranças. E quanto mais à noite avançava madrugada adentro, mais interessante se mostrava. O inverno traz consigo o silêncio, mas não conseguira calar aquele horizonte que estrondava perante os olhos de quem o contemplava.


Sim, estava encantador, um sorriso descia calorosamente perante o rosto alquebrado por tudo que era dor. A vida aquecia, apesar do mundo frio que estava ali perante sua imagem. E esta noite não existia alternativa que não fosse resgatar tanta coisa perdida. O horizonte era lindo, grande e espaçoso, caberia tudo que se podia querer. Ofegante com o ardor do clima, lembrara que dias atrás estava profundamente abatido, talvez desistido de acreditar que dias encantadores poderiam voltar a ter.


O olhar fixo, pouco fechava e pensava, pensava como àquela noite estava encantadora. A verdadeira alusão do esplendor havia lançado seu feitiço. Enfim, a emoção não era mais uma suplica persistente. Momentos tempestuosos não imperavam por ali, mas sim a liberdade. Poucas nuvens altas chegaram para enfatizar aquele momento e um pequeno sereno acentuou de vez todo o clima. Naquela noite nada era distante, tudo era próximo. Todas as estrelas ouviram teu pensar e estavam tão perto de ti.


Agora era à noite que cedia lugar ao dia, a luz. Seus olhos não havia fechados para descansar naquela noite, pelo contrário, descansaram debruçados naquele aconchegante momento. As estrelas serviram de espelhos e refletiram sua vida. Já podia ouvir o coração acelerar e os olhos brilharem ao amanhecer, as estrelas se apagavam enquanto seus olhos começavam a colher o brilho deixado por elas.


Perante o dia era hora de deixar aquele lugar desabitado por homens e somente ocupado por aquele horizonte. Ao descer tinha a certeza que não deixara nada para trás e sim que cada estrada é longa e que sempre existem montanhas em nossos caminhos, cada uma poderia oferecer um novo horizonte. E que cada dia poderíamos escalá-las em busca de um alento. Pois é lá, lá onde os ventos límpidos e nada mais alvo que a neve podemos encontrar para apaziguar nossa alma. Só lá você ficaria tão longe do mundo e tão próximo de si.

Um comentário:

  1. "Ao descer tinha a certeza que não deixara nada para trás e sim que cada estrada é longa e que sempre existem montanhas em nossos caminhos, cada uma poderia oferecer um novo horizonte. E que cada dia poderíamos escalá-las em busca de um alento."

    Destaco esse trecho, Daniel. Acho que o que todos precisamos é ter com o que se apegar. Concordo quando você diz que ficamos longe do mundo e mais perto de nós mesmos. Grande verdade. Certos momentos, coisas aparentemente simples são capazes de fazer uma diferença imensa no dia. São capazes ainda, de nos fazerem refletir que ainda existem coisas que valem a pena, embora hajam momentos difíceis.

    Adorei o seu texto. Que você veja muitos horizontes e com isso se lembre do quanto é bom viver, e do quanto a vida pode lhe fazer feliz. Basta você enxergar ou se permitir enxergar, como você fez na montanha. Torço sempre por isso.
    Beijão ;-)

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