11 julho, 2012

Hoje eu vou falar!



Tenho feito um apanhado da minha vida. Sim, da minha vida. Talvez não seja isso que as pessoas esperam de uma mulher no auge dos seus 26 anos recém completados, sobretudo quando acham que não tenho preocupações já que estou me relacionando com um homem grisalho (no sentido de “mais maduro”) e bem sucedido. Sei que provavelmente você não me levará a sério. Sei que você me enxerga como uma simples menina que passou por momentos difíceis quando teve um choque de realidade. Uma simples garota que vivia em um mundo de magia e agora se sente no mundo das sombras. Mas não é bem isso, meu bem. Isso aqui é somente a casca. Você não faz ideia do mundo assombroso por trás desse meu rostinho angelical e destes olhos claros levemente defeituosos. O defeito é meramente visual, jamais cerebral. E eu vejo além do que está na frente dos meus olhos, embora não pareça.

Eu não sou mais aquela garotinha superficial e tonta que muitos pensam que ainda sou. E por pensarem assim – aliás, a maioria dos que deduzem isso sequer pensam – acham que podem me manipular. Que podem me domar, me amaciar com elogios, com frases feitas, com gentilezas forçadas. Eu não sou otária! E antes que você questione, eu também não tenho síndrome de perseguição. Simplesmente resolvi abrir meus olhos. Esses meus olhos que antes viviam fechados para a realidade, que viviam entorpecidos por um mundo que não existia. Não, querido! Não é pessimismo: é revolta! Revolta com as coisas erradas, com tudo que queria mudar, mas não posso. Esgotamento psíquico. Vontade de sumir! É surpresa ao ver como as pessoas são sujas, imundas na verdade! E que com seus sorrisos maquiavélicos tentam nos dar uma rasteira. Ainda assim, sustentam a imagem de boazinhas.

Eu só estou cansada! Há muito tempo tenho me calado, mas esse silêncio tem me corroído por dentro. Não me venha com essa conversa de que com o tempo tudo vai melhorar. Esse clichê já é batido. No máximo torna as cicatrizes estagnadas, mas passíveis de se tornarem feridas abertas outra vez. Muito mais pertinente usar a frase que coincidentemente li hoje e fiz questão de anotar na minha pseudo-agenda: “O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções”(Martha Medeiros). E complemento: em certos casos (digo por experiência própria), o tempo até intensifica as dores. Ao mesmo tempo que as tira de foco, ele a alimenta de forma progressiva e sutil. Bem... essa é a minha visão. Acho que o tempo, afinal, é um paradoxo que nos machuca e nos consola ao mesmo tempo.

Não se preocupe com o que estou te dizendo! Estou bem, de verdade! Apenas extravasando... Voltando ao nível normal de saturação. Enfrentando a semana com a cabeça erguida, observando essa gente hipócrita que, por mais cretina que seja, também tem seu aspecto bom. “Bom” no sentido de bondade mesmo. Não! Não é contradição nem hipocrisia minha. É constatação.

Ainda me acostumando com a ideia de que os principais motivos para muitas pessoas serem sujas é a vontade incalculável de comparecem aos seus shopping-templos para venerarem o deus do consumo. Engraçado como a “melhor” e a “pior” coisa se associa ao dinheiro. E muitas pessoas acham que sou como elas, como se minha prioridade fosse idolatrar esse mesmo “deus”.

Fique frio! Em nenhum momento disse que sou santa, perfeita, incapaz de errar. Às vezes acho que erro mais que todo mundo, que tomo decisões erradas, que faço sofrer quem eu amo. 

E contesto! Contesto quando você me diz que agora estamos juntos para superar tudo. Por mais que a sua intenção seja boa, isso é inverídico. Você não entende que não somos “um”. Somos dois, eu e você. Duas peças chaves que se completam, mas que não se misturam. Eu tenho a minha cabeça, meus pensamentos, minhas neuras. Você também tem as suas. Mas concordo que hoje já não sei mais viver sem você. Você é o meu ponto de equilíbrio e, sem querer ser prepotente, eu sei que também sou o seu. Às vezes não sei se você fala em códigos para me deixar louca ou se eu já estou louca e acho que você tem um “Q” misterioso. Não sei o que pensar. E quando penso, sinto que é melhor não arriscar. O meu racional me diz que nada disso é racional. Meu emocional me diz que eu só posso estar com você... e é com você que ainda poderei ser feliz. Tenho tentado... Mas não sei se sou eu, se é o meu ego ou minha deficiência em assimilar e digerir rapidamente essa infinidade de fatos absurdamente e pejorativamente poderosos, que tenho sentido que estamos como duas retas paralelas, que caminham para um mesmo destino, possuem os mesmos ideais, mas não se olham.

Tudo isso pra te dizer que o apanhado que resolvi fazer, mesmo que você esteja confuso com esse tanto de assuntos desconexos e ditos sequencialmente sem qualquer vínculo, ou com elos que eu estabeleci entre uma loucura e outra, foi para enumerar os seguintes pontos que têm me tornado fragilizada. Talvez assim você entenda o turbilhão que se passa aqui nessa cachola. São eles:

* Descobri que não posso mudar o mundo. Que há coisas erradas que, por mais que eu me esforce, continuarão erradas. Descobri que não tenho forças contra titãs, gigantes que pisam em todos e tomam conta de tudo.

* Descobri que por mais que as situações sejam complicadas, que mesmo que a revolta seja insuportável, simplesmente não há o poder de reverter certas coisas, pois não depende de mim.

* Descobri que o que me revolta é não poder ter o controle das coisas, sobretudo aquilo que eu acho errado e penso que poderia consertar. Mas isso é a vida, não é? Talvez seja isso que tenha me feito perceber que os contos de fadas são exatamente isso: conto de fadas.

Não espero que me compreenda. Mas espero que esteja comigo. Aliás, desde que vim morar nessa cidade maluca, foi você com quem sempre contei, mesmo antes de você saber disso. Tenho sentido que estou te afastando, mas não quero isso. Isso é a consequência da história de quem envelheceu demais de uma hora pra outra, alguém que viu o que achou que nunca poderia ver. Alguém que esteve no inferno, mas que conseguiu sair... com feridas, mas de pé. E agora busca em você o refúgio, só que sem te sugar, de forma a te retribuir com o melhor que ela tem, tudo que lhe restou. E são coisas que valem a pena lutar!

E como sempre, despejei minha confusão em você. Acho que te uso como fonte de desabafo, mesmo que nada faça sentido pra você. Sabe de uma coisa? Acho que gosto mesmo de você. Na verdade, sabemos que é bem mais que isso. Bom... agora vou trabalhar. Tenha um excelente dia, nos vemos à noite!

04 fevereiro, 2012

Daniel Wagner, O Artista de Rua


Há cerca de dois meses, eu e o Daniel China (colaborador deste blog), temos visitado arredores de nosso local de trabalho durante o horário de almoço, no centro de Brasília/DF. Em uma dessas breves caminhadas encontramos uma das artes mais maravilhosas que poderia existir em um local que é sinônimo de correria, de pessoas ocupadas e contrastes sociais: Daniel Wagner, o Artista de Rua!

Em um cantinho, por trás dos comerciantes, estava Daniel e suas pinturas feitas em azulejos. Impressionante a rapidez, as técnicas, a percepção, o jogo de cores, o claro-escuro, o sombreado e a criatividade desse artista. É o tipo de coisa que nos faz parar e admirar. Cada tela pintada é tão rica em minuciosos detalhes que não nos deixa “cansar” de olharmos.


Para quem conhece Brasília, Daniel está de passagem pela cidade e faz pinturas no Setor Comercial Sul, quadra 03, ao lado das Lojas Americanas, em um vão recheado de vendedores ambulantes. Ao que tudo indica, ele viajará para o Rio de Janeiro e ficará em Copacabana durante o Carnaval, onde dará o ar de sua graça expondo e vendendo sua arte.



No contato que tivemos, soube um pouco de sua história. Daniel é um rapaz de 28 anos, nasceu em Belém-PA e, desde cedo, tem revelado o seu talento para as artes. “Na escola, eu era burro em matemática, era burro em português, mas tirava nota 10 em artes” – disse sorrindo.

Há pouco tempo suas pinturas eram feitas com o uso de spray, conforme se vê neste vídeo:


No entanto, devido a problemas de saúde e após consulta médica, ele ficou impedido de usar este tipo material para confecção de sua arte. Não houve problema para alguém como ele, com talento alternativo e ilimitado. Seu trabalho, atualmente, se volta à pintura em azulejos. Também pinta telas, mas somente por encomenda, pois são mais difíceis de serem vendidas devido ao custo ser um pouco maior. A pintura em azulejos o assegura de um volume maior de vendas e traz maior praticidade às confecções.


Há uma infinidade de temas em suas pinturas, mas sempre se destacam belas paisagens. Neste vídeo há uma breve manifestação de seu trabalho, junto com o de outros artistas de rua.


Daniel viaja por todo Brasil expondo e comercializando sua arte. Suas pinturas são a sua fonte de renda. Certo dia, em uma conversa, ele disse que cada pessoa é boa em alguma coisa, cada um tem o seu dom que só precisa ser descoberto e trabalhado. O dele é o dom da arte. Completou que investe naquilo que é bom e afirmou, sem qualquer hesitação, sua vontade de expressar sua arte por novas fronteiras e ser reconhecido por ela. Já afirmou que não viaja por todos os cantos para ganhar dinheiro, apesar de ser um fator vital para continuar expondo. Em muitas ocasiões ele ressaltou seu amor à arte, que gosta de fazer obras bem trabalhadas e só comercializa obras de qualidade. Não pensa em quantidade, mas em qualidade.


Daniel é um rapaz humilde, carismático, simpático, sempre sorridente e de uma sabedoria imensa. Sente vontade de quebrar barreiras e, através de seu dom, propiciar uma vida melhor para seus pais. Em diversas ocasiões, mencionou sua vontade em melhorar de vida e ajudar sua família.


Dizem que o Brasil é o país do futebol e do Carnaval! Tenho um certo asco dessa definição porque isso limita o país a apenas esses dois tipos de “riquezas”. Mas, de fato, os maiores investimentos culturais do país se voltam, praticamente, ao que foi citado.


Em contrapartida, vejo no Brasil uma infinidade de riquezas tão dignas quanto às já citadas (senão mais) de receberem maiores incentivos; dentre elas, grandes artistas. Daniel é um exemplo vivo de que aqui há diversas manifestações de arte, mas não existe a devida instigação, sobretudo por parte do governo.


Fico pensando que se este rapaz, assim como tantos outros, pudesse ter a oportunidade de estudar e aperfeiçoar seu dom através de um patrocínio do próprio Estado, a cultura do país se sobressairia muito no quesito “arte”. Admiro-me (negativamente) com a inversão de valores, a banalização de temas que deveriam ser considerados como dádivas e o culto a idiotices e futilidades. Neste contexto, é nítido que vários talentos são desperdiçados ou só encontram reconhecimento quando se encontram fora de seu país de origem. E o que acontece? O país PERDE pessoas únicas, a CULTURA do país perde riquezas insubstituíveis por falta de investimento.


Este post é apenas uma forma de reconhecer, divulgar e mostrar minha profunda admiração pelo trabalho de Daniel Wagner: uma pessoa simples e, ao mesmo tempo, muito rica em talento, ensinamentos e experiência de vidas. Um rapaz batalhador que não mede esforços para correr atrás de seus sonhos, que merece muito mais do que vender belíssimas obras de arte a preço de banana. Alguém que merece ser valorizado não apenas como artista, mas como exemplo de pessoa!


Abaixo seguem algumas aquisições feitas por mim e pelo Daniel China. Nós dois juntos já compramos cerca de 30 azulejos com os mais variados temas. Como forma de não banalizar sua arte e não facilitar o plágio por parte de outros pintores, a divulgação será limitada. Trata-se apenas de uma amostra de tamanho talento: Daniel Wagner, o artista de rua!



06 janeiro, 2011

Alcance da Perfeição




Antes de prosseguir, peço licença para associar características do Arcadismo (literatura) ao que será dito a seguir. Não há o intuito de provar que os assuntos tratados se relacionam com artifícios literários, mas sim uma forma encontrada para articular pensamentos e elucidar, ao meu modo, através de um jogo de palavras.

***

O que é perfeição? Fácil moldar o que pode ser perfeito e chegar a conclusões de que não passa de utopia.

A busca descomunal de uma suposta perfeição pode levar a um só caminho: a desilusão. E este desapontamento pode ser visto de uma maneira positiva e outra negativa.

Positiva no sentido de nos tirar de um torpor, de nos fazer enxergar como realmente são os fatos. Até então, as situações da realidade se encontravam bloqueadas por fantasias que eram sustentadas.

Em contrapeso, se não soubermos lidar com a realidade tal qual ela é, carregaremos uma decepção por sabermos que aquilo que idealizamos nada mais é que uma forma de não perceber a própria realidade; ou de não querer percebê-la. Idealizações em demasia que impliquem no viver em busca de ilusões são o primeiro passo para a desilusão.

Planejar, ter metas estipuladas e acreditar que planos possam ser concluídos da forma que se almeja não é ruim, mas se torna perigoso quando não se tem a real percepção da realidade e das reais possibilidades. Não basta querer ou imaginar como as coisas seriam, pois nada acontece se ficarmos inertes. Sempre é preciso dar o primeiro passo para que realizações ocorram, mesmo que este passo seja ínfimo e conte com auxílio da sorte (ou coincidência, ou destino, fica a critério de cada um).

A “perfeição” tão sonhada pode estar em tudo, desde que se esteja com os pés no chão. Perfeição pode ser um cantinho bacana para morar, ler um bom livro, ter bons amigos, um almoço em família e tantas outras circunstâncias. Isto remete à característica do Aurea Mediocritas, que trata da ideia de que o que se tem, ainda que seja pouco, pode ser o suficiente para proporcionar a felicidade. Esta é a condição básica para ser feliz: contentar-se com o que se tem.

Interessante também abordar o Fugere Urbem, que traduz a fuga para o campo, longe de uma cidade conturbada. Neste sentido, até uma simples casa no campo traria tranquilidade para o espírito e significaria um momento perfeito.

Abre-se espaço para falar sobre a busca de um alguém perfeito, com quem se possa ter um relacionamento saudável e, acima de tudo, recíproco. Na minha opinião, e não somente ao meu ver, a perfeição de um relacionamento está principalmente nisso: na reciprocidade.

Quando aprendemos a enxergar o perfeito naquele que está conosco, ainda que não fechemos os olhos para seus inúmeros defeitos, tudo se torna claro e saudável. A questão é saber lidar com o que se tem e saber enxergar o real, e não as ilusões que alimentamos. Rotular as pessoas é um dos maiores erros, porque isso nos traz insatisfação; nos torna incapazes de aceitarmos ao outro em suas particularidades.

É difícil quando se espera algo de alguém sem que isto esteja no querer do outro em realizar o que esperamos. É mais fácil atribuir a culpa ao outro do que se adequar ao que, de fato, existe.

Não adianta forçar uma situação de acordo com o que queremos que aconteça se há algo mais forte que a desvia daquilo que imaginamos. Menciono dois caminhos/soluções: ou nos adequamos ou ignoramos racionalmente. Estas duas maneiras citadas de se lidar, na minha concepção, são as mais prudentes. Isto porque ambas podem acrescentar e nos fazer crescer em algum sentido, hora nos tornando tolerantes, hora cortando o excesso - o desnecessário.

Esta última, qual seja o “ignorar racionalmente”, carrega a filosofia do Inutilia Truncat que, em outros termos, traduz o “cortar o inútil”. Isto significa acabar com os excessos e enxergar as coisas de uma forma mais simplificada, evitando provocar confusões ou complicar o que pode ser simples. O que se pressupõe é que caso se alimente ilusões, que por si só nada acrescem e apenas desvirtuam o caminho, a frustração baterá à porta. Sendo assim, prudente se faz ignorar de maneira racional tudo que não nos acrescenta.

Interessante é aproveitar a vida com aquilo que ela lhe oferece, não desperdiçando oportunidades e não viver de sonhos impossíveis: viver o agora, pensar no presente, uma vez que o futuro é consequência do que se faz hoje. Nada mais pertinente do que mencionar a frase em latim Carpe diem, traduzida também como “aproveite o dia”.

Imperioso é se manter firme, viver a sua realidade da melhor forma possível, sem nutrir sonhos impossíveis. Sonhar é permitido e é algo que deve ser perene, desde que estes sonhos não transponham a barreira do possível e sob a condição de que haja comprometimento para correr atrás se puderem ser alcançados.

O que se pode sintetizar é que a perfeição está pura e simplesmente no Carpe Diem! Que esta expressão seja vista com amplo significado e que tudo que seja apto de proporcionar crescimento pessoal seja enfatizado.

Procure descrever para si mesmo a sensação de se realizar algo produtivo, prazeroso, relevante. Pense e repense no quanto é necessário viver o agora, até que este se torne uma doce lembrança. E assim...

... Aproveite o dia!

16 dezembro, 2010

Há muito tempo sem postar!

Mais de um ano sem posts novos! Que vergonha! (Mentira, não estou com vergonha!)

Aí vai um joguinho para quem quiser perder preciosos minutos de seu tempo.


Parei na fase 28 porque fiquei sem paciência, mas até que é legalzinho.


Cuidado para não derrubar o good guy quando ele aparecer. Derrube apenas o bad guy!

Em breve (não sei quão breve será), novos textos!


Abraços e desejos de um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de realizações para todos.




Blow Things Up


22 outubro, 2009

SONHOS e SONHAR

Dos anseios ao que se vive na realidade.
O sonho que se espera é a vontade de que aconteça.(DANIEL NUNES)





Os sonhos, muitas vezes, inquietam por causar certo Déjà vu ou mesmo por trazer questões importantes que algumas pessoas buscam levá-los como um aviso ou fato preste a acontecer. Farei observações que não pretendem ser uma abordagem cientifica, apesar de que caminharei pela linha da coerência. Pretendo, também, entrar em questões um tanto quanto metafísicas. Mas, irei delimitar o sonho aos nossos anseios, seja de pessoas ou de vontades. Sempre buscando trazer à luz de uma boa observação e concatenação de ideias, bom, essa é a minha proposta nas linhas que se seguirão.


Peter Burke em seu livro, A Escola dos Analles, trata da questão dos sonhos em diferentes culturas, através dos tempos, em um pequeno espaço de seu estudo dentro deste livro. Ele chegou a algumas conclusões que os sonhos, na verdade, tem a ver com o meio cultural e o cotidiano das pessoas. Inclusive existe um levantamento de probabilidades de sonhos que vieram a se tornar realidade, menos de 5% vieram a ter esses sonhos concretizados, entre outras palavras: Sonhar nada mais seria, por sua definição de probabilidade, do que um advento do acaso. Essa é a parte que cabe à história, mas ainda existe o lado da psicologia e psicanálise que irão relatar quase a mesmo sentindo, apenas abrangendo questões mais particulares e pessoais.


E o sonho, em seus estudos, é bem delineado em REM e não REM (Rapid Eyes Moviment). E segundos os estudos é na fase REM que se você vier a acordar , certamente, saberá do que estava sonhando. Isso demonstra que os sonhos são objetos de estudos e que a ciência sabe muito bem que eles fazem parte, também, do processo evolutivo de alguns seres. Essa seria uma questão técnica para o sonho e sono fisiológico, mas o grande chamariz dessas questões são os sonhos coletivos( isso para estudos) e os sonhos individuais, esses dificilmente encabeçam alguma explicações cientificas, a singularidade e particularidade muitas vezes são delegadas ao acaso.


Uma vez sonhei que estava num castelo esplendoroso, numa grande festa, as paredes desse castelo tinham tapetes bem bonitos e trabalhados. E muita, mas muitas pessoas dentro desse castelo. Estava ao lado de outra pessoa e conversava com ela. Eu dizia a ela que sabia que aquilo ali era um sonho, engraçado, tinha noção de que estava sonhando, mas a pessoa ao meu lado dizia que não, não era um sonho, que eu poderia tentar acordar pra ver se era verdade. Não sei como, passado um tempinho acordei. Lembro de até achar engraçada a situação e falado comigo mesmo: sabia que era um sonho. Bom, mas o mais interessante estava por vir, ao novamente pegar no sono volto para o mesmo dito lugar e ao lado da mesma pessoa me falando: viu? Não é sonho.


Confesso que até hoje sou encucado com esse sonho e olha que o tive lá pelos meus 14 ou 15 anos. Vejam que alguns sonhos fogem de um padrão explicativo, o desenrolar desse sonho foi com a pessoa me falando assuntos que esqueci. Com o detalhe que tanto a pessoa que eu conversava, como outras que nunca as vi. Qual foi o padrão que o meu cérebro se utilizou para me passar um sonho tão bem organizado?


Também já tive sonhos a experimentar sensações impossíveis para um ser humano. Como o fato de voar sem auxilio de nada, apenas com a vontade mesmo de voar e a sensação experimentada é muito boa, sensação de voar, plainar.


Muitos pesadelos também, sonhos com o apocalipse do mundo, morrendo, sonhos de fugas, de guerras.


Dizem que muitas informações nos são transmitidas hereditariamente. Como muitos medos peculiares que herdamos sem saber o porquê, mesmo que não contenham uma explicação tão cultural. O pior é que nenhuma, ou quase nenhuma, explicação você alcançará através de pesquisas, porque essas questões são batidas e a psicanálise e psicologia possuem um foco muito delimitado para essas questões e o parecer segue um “CID” para cada circunstâncias.


Não é à toa que surgiram muitos ditos “desvendadores de sonhos”, verdadeiros tradutores da aflição alheia. Mas não é de hoje que os sonhos nos inquietam, na bíblia os sonhos desempenhavam um papel importante. Antigos sacerdotes também levavam muito em conta os sonhos. Alias, a maior parte dos sonhos na idade média, sonhada pelos camponeses, era um manjar numa mesa repleta com comidas, vinhos e tudo o mais. Pelo largo período de fome que passavam esses sonhos poderiam ser o senso comum.


Existem sites que trazem “explicações” para os fenômenos dos sonhos. Se sonha com um animal X ou com uma situação Y o site indica um tipo de significado. A meu ver parecem existir aí padrões já percebidos nos sonhos e a melhor explicação seriam os anseios antes mencionados.


Mas os que nos inquietam são aqueles que não conseguimos explicar por não haver nenhuma situação plausível que nos interliguem. A estes sou adepto da seguinte teoria, propriamente teoria minha: que o ser humano é bem mais que um “replicador de genes ou DNA”. Que nós somos grandes elos de informações passadas por gerações e o nosso cérebro um armazenador dessas informações. Que ora ou outra flagramos uma dessas informações deixadas por alguém da nossa cadeia hereditária. Isso explicaria, em partes, alguns sonhos que fogem dos nossos anseios e do nosso meio cultural de época.


Mas, como explicar aquele sonho de acordar e voltar para o mesmo local e continuar a conversa com as mesmas pessoas, tudo bem organizado?


Sei que outras pessoas já tiveram sonhos semelhantes. E para esses sonhos tenho uma explicação, também particular, de que os sonhos não encontram explicações externas, mas internas. O sonho coletivo é aquele que historiadores, psicólogos, psicanalistas tentaram padronizar, mas o sonho individual, esse só pode encontrar uma resposta em nós mesmos. Seja fator pessoal, emocional ou sentimental, o fato é que temos sonhos a fugir dos padrões e permanecerem em nossas lembranças, saindo do reservatório de informações e fazerem parte das lembranças.


Pessoas sonham constantemente. Sonhar, desde que não seja um pesadelo é muito prazeroso. Mesmo que venham carregados de “códigos”. Os sonhos possuem seu mundo à parte. Que situação você poderia rever pessoas que já partiram dessa vida que não fosse num sonho? Aquelas pessoas que você ainda conheceu na infância, viver um amor correspondido no sonho com a pessoa que deseja. Todas essas situações tão agradáveis nos fazem um bem enorme.


Sempre temos sonhos pautados em alguma questão. Quando sonhamos com coisas absurdas, ou de pouca relevância, esses sonhos acabam no esquecimento. Mas quando você tem aquele sonho com morte, com pessoas que morreram, com avisos, com lugares e pessoas que nunca viu, certamente eles nos cobrarão uma atenção, claro, se flagrados naquela fase entre estar acordando e sonhando. Óbvio que em algum momento os sonhos venham como respostas para tantas dúvidas que passamos e que desejamos encontrar uma solução, quase sempre o sonho flagrado refletiria esse nosso anseio.


DOS NOSSOS SONHOS


Com certeza a etapa mais instigante. Não basta só deitar-se e sonhar. Sonhar é tão importante que trazemos para nossa realidade. Todos sonham com algo, geralmente em forma de desejos, sejam de ordem sócio-cultural ou econômico. O fato é que todo o ser é um condutor de sonhos. Viver acordado não é tão paralelo a viver sonhando. Dizem que a pessoa que deixa de sonhar está morta em vida. Quantos mortos estão a caminhar pelo mundo? Qual seria o sonho de uma criança órfã? Qual seria o sonho de quem não tem onde morar? Sonhos cuja interrogação apenas pede a resposta que todos temos noção de qual seja.


Todos sonham com um mundo melhor. Onde as pessoas não exaltem tanto as diferenças, onde os homens convivam em harmonia. Sonham com o fim da fome, fim das guerra, fim das injustiças. Todos querem um mundo melhor, mas esse mundo parece existir apenas em nossos sonhos, porque SONHOS e SONHAR também viraram sinônimos de DESEJAR E UTOPIA. Quem não se lembra do grande discurso de Martin Luther King?


“I have a dream...”


Um sonho de um homem que atravessa gerações lá nos USA. E aqui, quem foi o grande sonhador? Lembro de uma pessoa, sociólogo Betinho que tinha uma campanha de luta contra a fome, mesmo com AIDS (adquirida numa transfusão de sangue) não media esforços para lutar por uma causa nobre. Pouco tempo atrás li um livro, cujo título era: O VENDEDOR DE SONHOS (AUGUSTO CURY). Livro que tinha a temática de resgatar uma sociedade que deixara de sonhar.


Mudanças se relacionam com sonhos. Martin, Betinho eram sonhadores sociais que expunham seus sonhos com uma sociedade igual, justa e democrática. Seus sonhos ainda são compartilhados por tantos outros.


A ousadia de sonhar nos faz diferente. Num mundo de pesadelos, meu maior sonho seria me blindar de todo o mundo e pessoas, para que eu não me contaminasse com seus pesadelos, o pesadelo de deixar de sonhar. Da explicação pragmática, doxa ou episteme, sonhar e sonhos é uma questão humana. Dos anseios ao que se vive na realidade. O sonho que se espera é a vontade de que aconteça. Um sonho para se recordar talvez seja aquele que se queira viver. Um sonho para se sonhar é aquele que nos fazem viver. Espero sonhar com mais intensidade e me desligar das explicações(que não explicam), me deixar refletir sobre a vida e os momentos.

24 maio, 2009

Vivendo nas Lembranças...



Quem ousa avançar no seu futuro e buscar o fim do seu tempo?


Pelo contrário, as pessoas, a cada momento que se aproximam do seu fim, nutrem uma necessidade vital de retroceder para sua juventude. Numa tentativa desesperada de fugir do futuro que os levam para o fim da sua própria existência. Então é normal sentar-se com uma pessoa mais idosa e ouvir suas lembranças, seu passado. O ser humano sente a necessidade de se prender ao passado, porque é no passado onde a vida se frutificou ou, simplesmente, criou-se o ser que é hoje: atormentado por lembranças passadas.


Quem um dia lembrou de viver olhando para o seu futuro?


Questão que poucos respondem. Mas que tínhamos a resposta, sim, tínhamos a resposta. Quando CRIANÇA todos nós vivemos para o futuro. Queremos ser adultos o quanto antes. Queremos sobrepujar o tempo presente. Queremos dar um passo à frente da nossa época. Queremos desfrutar das benesses que ser adulto afere. Queremos a atenção. Queremos, sobretudo, a responsabilidade de sermos donos do nosso livre arbítrio.


É uma armadilha que a própria vida nos conduz. É um caminho sem volta, pois logo ao chegarmos à tão sonhada idade adulta, compreenderemos que não era isso que queríamos, mesmo que você seja bem sucedido. Vamos querer voltar no tempo, porque somos cientes de que o futuro só reserva o nosso fim. È a única verdade absoluta!


Não deveríamos ter medo do futuro. Deveríamos ter medo do presente, porque ao fugirmos tanto do nosso futuro, deixamos de vivê-lo para nos prendermos ao passado. Digo que é possível viver em “três tempos”, seja ele passado, presente ou futuro. Podemos conciliar nossa vida para tanto lembrar do passado, como construirmos momentos presentes que poderemos lembrar. Assim podemos vislumbrar um futuro onde o fim não tenha que ser o nosso algoz.


Não existe receita. Poucos terão o privilégio de querer tanto conhecer o futuro na idade adulta e, quando mais velho, ter a coragem de enfrentar o seu próprio tempo. Parece que somos mais fortes quando crianças. Não somos covardes, mas nos tornamos por medo de viver.


Bom, até aqui percebam que tentei discorrer sobre a fuga da vida para as lembranças passadas à medida que avançamos em nosso tempo. Mas, tudo isso é apenas uma observação.


Na verdade irei contar uma história onde as lembranças passadas prostraram um senhor a querer conhecer o futuro o quanto antes. Porque tinha em mente que só chegando ao seu fim poderia reencontrar e reviver tudo que viveu em seu passado. Não sou tão bom com palavras, confesso que estou me aventurando nesse meio narrativo há pouco tempo, mas, crio situações que eu tenha experimentado ou conhecido. Portanto, são congruentes com a realidade que cada um pode viver.


Bom, dedico este texto a todos que vivem ou viveram boas lembranças ao lado de pessoas especiais. Sejam pais ou filhos, namorados ou amigos. Um dia sentaremos para “reviver” cada instante da nossa vida, nosso feedback de lembranças e vamos querer um meio de resgatar cada instante antes do fim.

Pois bem...


Ambrosin (o imortal) era um senhor numa idade avançada que todas as manhãs descia da sua casa até uma praça onde sentava num banco e ficava horas a admirar crianças brincarem num parquinho da praça. Sempre com seu gorro, seu óculos escuro e a sua inseparável bengala que o ajudava a se apoiar no terreno trepide e cuja idade avançada lhe roubara a estabilidade física. Sempre sentava só, todos os conheciam, mas ninguém nunca sentava ao seu lado ou se aproximava dele. Parecia que todos entendiam que o seu Ambrosin estava muito bem acompanhado da sua solidão.


A praça também era freqüentada por casais que se punham a namorar, era um local de vida. O senhor Ambrosin só abandonava seu banco cativo para fazer suas necessidades e refeições e, ao final da noite se recolher a sua casa. Um senhor de poucas palavras, observador por natureza. Sobrevivia da sua aposentadoria que não era muito, mas atendia muito bem suas necessidades, apesar de ter 4 filhos, apenas uma filha vinha em sua casa para lhe preparar comida e cuidar de todas as pendências do lar. A maioria já o encarava como uma pessoa que perdeu a boa memória, que falava coisas sem nexo, portanto, a imagem do seu Ambrosin era tida como a de um velho passado.


Um dia, sentado no seu banco de sempre, presenciou uma briga de um casal de jovens. A discussão era tensa. O jovem discutia ferrenhamente com a sua namorada, essa ao se levantar aos gritos terminara tudo. O jovem arrependido tentou se desculpar, afinal ele a amava, eram até ali um casal muito unido e cheios de intenções futuras. Mas uma discussão os separava naquele momento. Arrasado o jovem viu que cometera a maior idiotice da sua vida. Cabisbaixo, aflito, errando os próprios passos se recolheu para sua casa.


No outro dia, seu Ambrosin percebera que o jovem estava sentado no banco ao seu lado. O jovem estava só, muito triste mergulhado no silêncio. Ali estava um grande contraste, num banco um senhor cujo tempo o fez só e um jovem cuja ânsia os pôs só. Sua amada jamais voltara àquela praça que ele se punha a sentar. Todo dia ele ia para praça na esperança de sua namorada voltar e ele voltar a viver seu grande amor. Mas isso não acontecia. O tempo passava e nada.


Um dia seu Ambrosin levanta-se do seu banco e vai até ao banco do jovem. Muito educado, como de costume, pede licença para sentar ao lado do jovem. O jovem nada respondia, sua mente estava mergulhada na esperança de voltar o tempo e evitar aquele desfecho. Pensava em inúmeras possibilidades de reatar seu relacionamento, mas, sabia que não conseguiria. Seu Ambrosin quebra o silêncio e começa a falar:


_ Essa é a sua primeira perda, meu jovem?


O jovem a relutar, o responde de forma apática:


_ Minha maior perda, minha única perda.


Sereno com as palavras, seu Ambrosin abre um diálogo:


_ Tive várias perdas em minha vida. Mas também tive a minha maior perda e única perda. Quando perdemos um amor tão grande de nossas vidas queremos buscar formas de resgatá-la. Quando minha Claire morreu eu perdi meu rumo na vida, sempre vínhamos nessa praça namorar como eternos amantes, trazíamos nossos filhos e víamos como a vida era perfeita. Tínhamos tudo, felicidade em abundância, tenho muitas saudades de outrora.


O jovem desnorteado não compreendera o senhor, mas entendia que este notara que ele estava vivendo algo semelhante, não por uma perda de vida, mas de uma paixão.


_ Sinto muito pelo senhor, mas na vida todos precisam morrer, isso é natural. Apenas quero arrumar uma solução para o erro que cometi, queria poder voltar e consertar o erro que cometi.


Ambrosin deixa escapar um sorriso:


_ Eu pensava igual a você, aliás, ainda penso. Tenho plena certeza que algo muito além da vida é que seria a minha única chance de reviver tudo que, naturalmente, na vida perdemos. O meu futuro é a minha única esperança para largar as lembranças de outrora e reviver tudo que perdi. Só o meu fim teria uma resposta para mim. Já perdi tudo que uma pessoa em vida poderia perder, já perdi meus pais, já perdi a minha amada perdi, inclusive, a minha saúde, já não vislumbro a vida como antigamente, mas, ao invés de buscar refugio no meu passado, creio que só o meu futuro será responsável por fechar minhas chagas. Tudo que perdi não pode mais ser restituído, ao contrário de você.


De certa forma essas palavras levaram uma mensagem ao jovem:


_ O senhor tem razão. Posso ainda amar várias outras pessoas, mas, ainda não sei conviver com a rejeição. Mas por que o senhor espera tanto o seu “fim”? O senhor acredita que o seu espírito irá se reencontrar com todo mundo numa grande festa?


O jovem sorrindo continua:


_ Não que eu ache engraçado tudo isso que aconteceu com o senhor, tenho consciência que passarei pelas mesmas situações. O senhor é um privilegiado, está aí para contar todas as suas aventuras, enquanto muitos não terão a oportunidade de viver metade da vida do senhor. Eu queria estar no seu lugar. O resto foi conseqüência da vida, tinha que acontecer.


Seu Ambrosin retira seu óculos escuro e seu olhar cansado pelo tempo, contempla o final daquela tarde, quando a luz do Sol dá lugar ao brilho das estrelas, anoitecia grandiosamente naquele dia e era uma noite esplendida:


_ Você queria ser eu. Eu não queria ser você, mas, acima de tudo, também não queria ser eu. A noite aqui continua a mesma, sempre nesse período à noite é rica em estrelas. A cada uma eu lembro da descoberta e me remete uma lembrança. Apesar da diversidade de estrelas e da insuficiência do meu tempo de vida, creio que, após isso tudo, passarei a não apontar lembranças, mas fazer parte da lembrança. Todas essas estrelas já foram vistas pelos meus pais, pela minha Claire e agora eu só os contemplo. Creio que jamais poderei revê-los, a vida é uma só. Eles se foram para sempre. Eu vivi minhas aventuras, minhas guerras, vivi minha família. Hoje não sou dono mais de nada, nem do meu mundo, por isso, me apresso em querer meu futuro: Qual resposta ele tem pra mim perante tudo isso? Não quero motivos, gostaria apenas do significado disso tudo. Por que vivemos, ganhamos e perdemos? Tenho tantas perguntas tanto quanto fosse criança. Minhas interrogações fogem do meu ser. Meu silêncio não se cala perante o olhar desconsiderável das pessoas. Eu sei por que me olham como apenas mais um, porque não faço mais parte do mundo de vocês. Porque a minha imagem lembra a todos vocês que sou mensageiro de um “fim” dos quais todos fogem. Pois estou aqui buscando cada passo para o futuro, também não vejo mais todas essas pessoas como membros do meu mundo, apenas como peças de recordações. Todo dia estou aqui em busca de uma explicação, mas, sempre encontro o silêncio e revivo em vocês cada instante que um dia a vida me colocou.


O jovem abismado com a boa concatenação das idéias e palavras que o senhor proferira se encheu de perguntas e curiosidade:


_ O senhor busca na sua morte uma explicação?

A sorrir reponde:


_ Não meu jovem, busco na VIDA a resposta. Se a morte me desse alguma resposta eu não viria a esta praça. Velaria todos os dias da minha breve vida a posição no cemitério de cada pessoa que amo e que partiram. Sou uma testemunha do tempo. Você não pode mensurar o que é sentir a dor da ausência de quem se ama, apenas está experimentando o (des)sabor de uma perda que não é irreparável. A mim a vida não me dá mais este privilégio.


Deixando de encarar o céu estrelado e passando a encarar o jovem:


_ E foi observando você que obtive uma resposta que há tanto tempo buscava. Veja, pela primeira vez, depois de tanto tempo, abandonei o meu banco cativo para sentar em outro e conversar com alguém que antes só vislumbrava como peças de minhas lembranças. Hoje eu descobri que não preciso vir mais a este templo das lembranças e recordações. Nada está mais aqui, tudo está em mim. Das pessoas que amei elas continuam a existir em mim, mas estava certo, apenas o fim pode me dar a condição de ser uma lembrança e ver ao lado de outras lembranças tão importante. Você me deu a grande oportunidade de me reencontrar.


Confuso o jovem lança outra questão:


_A minha briga com a minha namorada te fez perceber isso?


A balançar sua cabeça no sentido negativo Ambrosin responde:


_ Não foi a sua separação. Mas foi a sua forma de resgatar a pessoa. O que você precisa fazer é levantar-se do banco e ir até a pessoa que ama e render-lhe todo o amor e arrependimento, se ela o amar verdadeiramente irá te oferecer o beneficio do perdão, senão, será melhor para você continuar sua caminhada. Eu percebi que o que preciso fazer é levantar deste banco e continuar a viver, interagir com as pessoas, LEMBRAR que ainda vivo, pois o que estou fazendo é matar a minha existência enquanto lembrança a ser deixada.


Captando a mensagem do senhor ali do lado o jovem o agradece e se despede... Em todo o seu trajeto, até a sua casa, ele reflete sobre as palavras daquele velho que até pouco tempo atrás não influenciava nada em sua vida.


No outro dia o jovem vai até a casa de sua namorada que reluta em atendê-lo. Ele insistindo fala dos bons momentos que viveram juntos e do seu arrependimento, do quanto de carinho tinha por ela. Não resistindo ela rompe sua clausura e corre para os braços do jovem. Passam então a viver momentos intensos, tão intensos quanto antes da briga. Muito feliz o jovem lembra-se, meses mais tarde, daquele senhor que com suas palavras o tocou e o fez a tomar tal atitude tão acertada. Volta à praça, mas não encontra o senhor naquele banco que sempre estava. Lembrou-se da última conversa onde ele dizia que não tinha mais nada para encontrar naquele banco.


Com algumas perguntas às pessoas por ali indicam a residência do senhor Ambrosin. Chegando até a casa do senhor toca uma campainha, imediatamente um pequeno cachorro passa a latir e uma senhora de meia idade saia a atendê-lo:


_ Pois não o que deseja?


Ele responde:


_ Gostaria de conversar com o senhor Ambrosin, assim que o chamam, gostaria de agradecê-lo por uma conversa que tivemos meses atrás.


A senhora o observa e diz:


_ Infelizmente o seu agradecimento já não é mais possível, papai faleceu duas semanas atrás, enfim, descansou dessa vida.


O jovem sem resposta despede-se e volta a caminhar, relembrando de toda aquela conversa, de todas aquelas idéias e palavras que entraram na noite naquela praça. Passa pelo banco onde estiveram sentados e se lembra de um trecho da conversa do senhor Ambrosin: “... apenas o fim pode me dar a condição de ser uma lembrança...”


E percebe que ele estava certo, a partir daquele momento ele passou a ser uma grande lembrança em sua vida. Que viveria naqueles momentos eternizados de sua memória. Suas palavras, seus gestos, todas as peças de uma vida que se repete geração após geração. Deu-se conta que aquele senhor havia deixado o palco da vida e estava na platéia. E que ele ainda teria que contracenar com todos os percalços daquele teatro da vida, seja na dor, na morte, na ausência e perda de um amor. E sentiu, mais do que nunca, a vontade de recorrer ao seu futuro sob medida de fazer valer seu passado. Seu presente passou a ter mais vida, mais intensidade. E o que seria o fim?Senão o aplauso da vida para sua grande atuação no tempo.


Quem ousa avançar no futuro, não precisa abandonar seu passado, basta viver seu presente com a maior intensidade que a vida possa oferecer. Não precisa desmentir sua dor, basta saber dá-lhe um significado. O céu reserva várias estrelas, guarde cada lembrança em uma delas, a vida é curta, tão logo faremos parte de alguma estrela perdida a brilhar numa noite para pessoas sentadas em algum banco da vida.

20 maio, 2009

Como se compra um sonho?


Certas coisas nos instigam a pensar se sabemos realmente quem somos. Se uma muralha que é capaz de defender todo um povo poderia sucumbir por não gozar de proteção emocional. Há pessoas presas no seu próprio mundo inundado de paradigmas e disfarces que, por si mesmas, fizeram brotar. Será que realmente sabemos quem somos?

A verdade é que não sabemos quem somos. Nos tornamos meros recipientes de informações; insensíveis, incrédulos, céticos, mas ainda assim, maravilhados com os mistérios. Incapazes de afirmar com veemência a não existência de algo além. Temos nossas dúvidas. Só se deixa de ser vazio como pessoa quando se passa por um choque de realidade. É isso que desencadeia o próprio processo de pensar, intuir, raciocinar, ainda que seja uma inteligência emocional.

Tudo que fugimos ou repudiamos, de alguma forma, se liga a nós. Se fugimos das crenças, passamos a crer. Se receamos a dor e as desgraças, procuramos vê-las aonde existem. Assistimos espetáculos da vida (e da morte), mesmo sabendo que alguns deles não nos farão bem se assistirmos. Somos teimosos; mais que isso, somos curiosos. É quase uma lei: o que mais tentamos esquecer é o que mais trazemos à tona e, de fato, nos recordamos. Somos prisioneiros de nossos medos, angústias, decepções, contratempos; justamente por não sabermos quem somos.

Quando será a hora de se despir das máscaras que nos fazem mecânicos (normais)? Quando aprenderemos a pensar em vez de simplesmente coletar informações e absorvê-las? Vale a pena crescer profissionalmente e decair como pessoa? Quanto vale desistir de viver intensamente por mera avareza, mesquinhez? Quando vamos admitir que temos limites emocionais e que, por mais que aparentemos sermos fortes, somos frágeis?

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Achou esse texto uma viagem? Não entendeu esse método socrático de expor idéias e levar alguém a pensar? Descubram de onde surgiu a minha inspiração: sintam-se convidados a ler o livro "O Vendedor de Sonhos", de Augusto Cury. Esta leitura vai te fazer refletir. E como diz o Daniel, “o livro vai falar com você”. Veja aqui a Sinopse





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Deixo um trecho do livro:


“_Uns têm uma loucura visível e outros, oculta. Que tipo de loucura você tem?
_Eu não. Eu sou normal! – reagiu impulsivamente o profissional de saúde mental. Enquanto isso, o vendedor de sonhos admitiu:
_Pois a minha é visível.

Em seguida, deu as costas e começou a caminhar com as mãos nos meus ombros. Três passos adiante, olhou para o alto e expressou:

_Deus, livra-me dos ‘normais’!”


Agora eu pergunto: Qual o seu tipo de loucura? Deixe-se levar por essa leitura envolvente. A propósito, esse livro foi o meu melhor presente. ;-)