24 maio, 2009

Vivendo nas Lembranças...



Quem ousa avançar no seu futuro e buscar o fim do seu tempo?


Pelo contrário, as pessoas, a cada momento que se aproximam do seu fim, nutrem uma necessidade vital de retroceder para sua juventude. Numa tentativa desesperada de fugir do futuro que os levam para o fim da sua própria existência. Então é normal sentar-se com uma pessoa mais idosa e ouvir suas lembranças, seu passado. O ser humano sente a necessidade de se prender ao passado, porque é no passado onde a vida se frutificou ou, simplesmente, criou-se o ser que é hoje: atormentado por lembranças passadas.


Quem um dia lembrou de viver olhando para o seu futuro?


Questão que poucos respondem. Mas que tínhamos a resposta, sim, tínhamos a resposta. Quando CRIANÇA todos nós vivemos para o futuro. Queremos ser adultos o quanto antes. Queremos sobrepujar o tempo presente. Queremos dar um passo à frente da nossa época. Queremos desfrutar das benesses que ser adulto afere. Queremos a atenção. Queremos, sobretudo, a responsabilidade de sermos donos do nosso livre arbítrio.


É uma armadilha que a própria vida nos conduz. É um caminho sem volta, pois logo ao chegarmos à tão sonhada idade adulta, compreenderemos que não era isso que queríamos, mesmo que você seja bem sucedido. Vamos querer voltar no tempo, porque somos cientes de que o futuro só reserva o nosso fim. È a única verdade absoluta!


Não deveríamos ter medo do futuro. Deveríamos ter medo do presente, porque ao fugirmos tanto do nosso futuro, deixamos de vivê-lo para nos prendermos ao passado. Digo que é possível viver em “três tempos”, seja ele passado, presente ou futuro. Podemos conciliar nossa vida para tanto lembrar do passado, como construirmos momentos presentes que poderemos lembrar. Assim podemos vislumbrar um futuro onde o fim não tenha que ser o nosso algoz.


Não existe receita. Poucos terão o privilégio de querer tanto conhecer o futuro na idade adulta e, quando mais velho, ter a coragem de enfrentar o seu próprio tempo. Parece que somos mais fortes quando crianças. Não somos covardes, mas nos tornamos por medo de viver.


Bom, até aqui percebam que tentei discorrer sobre a fuga da vida para as lembranças passadas à medida que avançamos em nosso tempo. Mas, tudo isso é apenas uma observação.


Na verdade irei contar uma história onde as lembranças passadas prostraram um senhor a querer conhecer o futuro o quanto antes. Porque tinha em mente que só chegando ao seu fim poderia reencontrar e reviver tudo que viveu em seu passado. Não sou tão bom com palavras, confesso que estou me aventurando nesse meio narrativo há pouco tempo, mas, crio situações que eu tenha experimentado ou conhecido. Portanto, são congruentes com a realidade que cada um pode viver.


Bom, dedico este texto a todos que vivem ou viveram boas lembranças ao lado de pessoas especiais. Sejam pais ou filhos, namorados ou amigos. Um dia sentaremos para “reviver” cada instante da nossa vida, nosso feedback de lembranças e vamos querer um meio de resgatar cada instante antes do fim.

Pois bem...


Ambrosin (o imortal) era um senhor numa idade avançada que todas as manhãs descia da sua casa até uma praça onde sentava num banco e ficava horas a admirar crianças brincarem num parquinho da praça. Sempre com seu gorro, seu óculos escuro e a sua inseparável bengala que o ajudava a se apoiar no terreno trepide e cuja idade avançada lhe roubara a estabilidade física. Sempre sentava só, todos os conheciam, mas ninguém nunca sentava ao seu lado ou se aproximava dele. Parecia que todos entendiam que o seu Ambrosin estava muito bem acompanhado da sua solidão.


A praça também era freqüentada por casais que se punham a namorar, era um local de vida. O senhor Ambrosin só abandonava seu banco cativo para fazer suas necessidades e refeições e, ao final da noite se recolher a sua casa. Um senhor de poucas palavras, observador por natureza. Sobrevivia da sua aposentadoria que não era muito, mas atendia muito bem suas necessidades, apesar de ter 4 filhos, apenas uma filha vinha em sua casa para lhe preparar comida e cuidar de todas as pendências do lar. A maioria já o encarava como uma pessoa que perdeu a boa memória, que falava coisas sem nexo, portanto, a imagem do seu Ambrosin era tida como a de um velho passado.


Um dia, sentado no seu banco de sempre, presenciou uma briga de um casal de jovens. A discussão era tensa. O jovem discutia ferrenhamente com a sua namorada, essa ao se levantar aos gritos terminara tudo. O jovem arrependido tentou se desculpar, afinal ele a amava, eram até ali um casal muito unido e cheios de intenções futuras. Mas uma discussão os separava naquele momento. Arrasado o jovem viu que cometera a maior idiotice da sua vida. Cabisbaixo, aflito, errando os próprios passos se recolheu para sua casa.


No outro dia, seu Ambrosin percebera que o jovem estava sentado no banco ao seu lado. O jovem estava só, muito triste mergulhado no silêncio. Ali estava um grande contraste, num banco um senhor cujo tempo o fez só e um jovem cuja ânsia os pôs só. Sua amada jamais voltara àquela praça que ele se punha a sentar. Todo dia ele ia para praça na esperança de sua namorada voltar e ele voltar a viver seu grande amor. Mas isso não acontecia. O tempo passava e nada.


Um dia seu Ambrosin levanta-se do seu banco e vai até ao banco do jovem. Muito educado, como de costume, pede licença para sentar ao lado do jovem. O jovem nada respondia, sua mente estava mergulhada na esperança de voltar o tempo e evitar aquele desfecho. Pensava em inúmeras possibilidades de reatar seu relacionamento, mas, sabia que não conseguiria. Seu Ambrosin quebra o silêncio e começa a falar:


_ Essa é a sua primeira perda, meu jovem?


O jovem a relutar, o responde de forma apática:


_ Minha maior perda, minha única perda.


Sereno com as palavras, seu Ambrosin abre um diálogo:


_ Tive várias perdas em minha vida. Mas também tive a minha maior perda e única perda. Quando perdemos um amor tão grande de nossas vidas queremos buscar formas de resgatá-la. Quando minha Claire morreu eu perdi meu rumo na vida, sempre vínhamos nessa praça namorar como eternos amantes, trazíamos nossos filhos e víamos como a vida era perfeita. Tínhamos tudo, felicidade em abundância, tenho muitas saudades de outrora.


O jovem desnorteado não compreendera o senhor, mas entendia que este notara que ele estava vivendo algo semelhante, não por uma perda de vida, mas de uma paixão.


_ Sinto muito pelo senhor, mas na vida todos precisam morrer, isso é natural. Apenas quero arrumar uma solução para o erro que cometi, queria poder voltar e consertar o erro que cometi.


Ambrosin deixa escapar um sorriso:


_ Eu pensava igual a você, aliás, ainda penso. Tenho plena certeza que algo muito além da vida é que seria a minha única chance de reviver tudo que, naturalmente, na vida perdemos. O meu futuro é a minha única esperança para largar as lembranças de outrora e reviver tudo que perdi. Só o meu fim teria uma resposta para mim. Já perdi tudo que uma pessoa em vida poderia perder, já perdi meus pais, já perdi a minha amada perdi, inclusive, a minha saúde, já não vislumbro a vida como antigamente, mas, ao invés de buscar refugio no meu passado, creio que só o meu futuro será responsável por fechar minhas chagas. Tudo que perdi não pode mais ser restituído, ao contrário de você.


De certa forma essas palavras levaram uma mensagem ao jovem:


_ O senhor tem razão. Posso ainda amar várias outras pessoas, mas, ainda não sei conviver com a rejeição. Mas por que o senhor espera tanto o seu “fim”? O senhor acredita que o seu espírito irá se reencontrar com todo mundo numa grande festa?


O jovem sorrindo continua:


_ Não que eu ache engraçado tudo isso que aconteceu com o senhor, tenho consciência que passarei pelas mesmas situações. O senhor é um privilegiado, está aí para contar todas as suas aventuras, enquanto muitos não terão a oportunidade de viver metade da vida do senhor. Eu queria estar no seu lugar. O resto foi conseqüência da vida, tinha que acontecer.


Seu Ambrosin retira seu óculos escuro e seu olhar cansado pelo tempo, contempla o final daquela tarde, quando a luz do Sol dá lugar ao brilho das estrelas, anoitecia grandiosamente naquele dia e era uma noite esplendida:


_ Você queria ser eu. Eu não queria ser você, mas, acima de tudo, também não queria ser eu. A noite aqui continua a mesma, sempre nesse período à noite é rica em estrelas. A cada uma eu lembro da descoberta e me remete uma lembrança. Apesar da diversidade de estrelas e da insuficiência do meu tempo de vida, creio que, após isso tudo, passarei a não apontar lembranças, mas fazer parte da lembrança. Todas essas estrelas já foram vistas pelos meus pais, pela minha Claire e agora eu só os contemplo. Creio que jamais poderei revê-los, a vida é uma só. Eles se foram para sempre. Eu vivi minhas aventuras, minhas guerras, vivi minha família. Hoje não sou dono mais de nada, nem do meu mundo, por isso, me apresso em querer meu futuro: Qual resposta ele tem pra mim perante tudo isso? Não quero motivos, gostaria apenas do significado disso tudo. Por que vivemos, ganhamos e perdemos? Tenho tantas perguntas tanto quanto fosse criança. Minhas interrogações fogem do meu ser. Meu silêncio não se cala perante o olhar desconsiderável das pessoas. Eu sei por que me olham como apenas mais um, porque não faço mais parte do mundo de vocês. Porque a minha imagem lembra a todos vocês que sou mensageiro de um “fim” dos quais todos fogem. Pois estou aqui buscando cada passo para o futuro, também não vejo mais todas essas pessoas como membros do meu mundo, apenas como peças de recordações. Todo dia estou aqui em busca de uma explicação, mas, sempre encontro o silêncio e revivo em vocês cada instante que um dia a vida me colocou.


O jovem abismado com a boa concatenação das idéias e palavras que o senhor proferira se encheu de perguntas e curiosidade:


_ O senhor busca na sua morte uma explicação?

A sorrir reponde:


_ Não meu jovem, busco na VIDA a resposta. Se a morte me desse alguma resposta eu não viria a esta praça. Velaria todos os dias da minha breve vida a posição no cemitério de cada pessoa que amo e que partiram. Sou uma testemunha do tempo. Você não pode mensurar o que é sentir a dor da ausência de quem se ama, apenas está experimentando o (des)sabor de uma perda que não é irreparável. A mim a vida não me dá mais este privilégio.


Deixando de encarar o céu estrelado e passando a encarar o jovem:


_ E foi observando você que obtive uma resposta que há tanto tempo buscava. Veja, pela primeira vez, depois de tanto tempo, abandonei o meu banco cativo para sentar em outro e conversar com alguém que antes só vislumbrava como peças de minhas lembranças. Hoje eu descobri que não preciso vir mais a este templo das lembranças e recordações. Nada está mais aqui, tudo está em mim. Das pessoas que amei elas continuam a existir em mim, mas estava certo, apenas o fim pode me dar a condição de ser uma lembrança e ver ao lado de outras lembranças tão importante. Você me deu a grande oportunidade de me reencontrar.


Confuso o jovem lança outra questão:


_A minha briga com a minha namorada te fez perceber isso?


A balançar sua cabeça no sentido negativo Ambrosin responde:


_ Não foi a sua separação. Mas foi a sua forma de resgatar a pessoa. O que você precisa fazer é levantar-se do banco e ir até a pessoa que ama e render-lhe todo o amor e arrependimento, se ela o amar verdadeiramente irá te oferecer o beneficio do perdão, senão, será melhor para você continuar sua caminhada. Eu percebi que o que preciso fazer é levantar deste banco e continuar a viver, interagir com as pessoas, LEMBRAR que ainda vivo, pois o que estou fazendo é matar a minha existência enquanto lembrança a ser deixada.


Captando a mensagem do senhor ali do lado o jovem o agradece e se despede... Em todo o seu trajeto, até a sua casa, ele reflete sobre as palavras daquele velho que até pouco tempo atrás não influenciava nada em sua vida.


No outro dia o jovem vai até a casa de sua namorada que reluta em atendê-lo. Ele insistindo fala dos bons momentos que viveram juntos e do seu arrependimento, do quanto de carinho tinha por ela. Não resistindo ela rompe sua clausura e corre para os braços do jovem. Passam então a viver momentos intensos, tão intensos quanto antes da briga. Muito feliz o jovem lembra-se, meses mais tarde, daquele senhor que com suas palavras o tocou e o fez a tomar tal atitude tão acertada. Volta à praça, mas não encontra o senhor naquele banco que sempre estava. Lembrou-se da última conversa onde ele dizia que não tinha mais nada para encontrar naquele banco.


Com algumas perguntas às pessoas por ali indicam a residência do senhor Ambrosin. Chegando até a casa do senhor toca uma campainha, imediatamente um pequeno cachorro passa a latir e uma senhora de meia idade saia a atendê-lo:


_ Pois não o que deseja?


Ele responde:


_ Gostaria de conversar com o senhor Ambrosin, assim que o chamam, gostaria de agradecê-lo por uma conversa que tivemos meses atrás.


A senhora o observa e diz:


_ Infelizmente o seu agradecimento já não é mais possível, papai faleceu duas semanas atrás, enfim, descansou dessa vida.


O jovem sem resposta despede-se e volta a caminhar, relembrando de toda aquela conversa, de todas aquelas idéias e palavras que entraram na noite naquela praça. Passa pelo banco onde estiveram sentados e se lembra de um trecho da conversa do senhor Ambrosin: “... apenas o fim pode me dar a condição de ser uma lembrança...”


E percebe que ele estava certo, a partir daquele momento ele passou a ser uma grande lembrança em sua vida. Que viveria naqueles momentos eternizados de sua memória. Suas palavras, seus gestos, todas as peças de uma vida que se repete geração após geração. Deu-se conta que aquele senhor havia deixado o palco da vida e estava na platéia. E que ele ainda teria que contracenar com todos os percalços daquele teatro da vida, seja na dor, na morte, na ausência e perda de um amor. E sentiu, mais do que nunca, a vontade de recorrer ao seu futuro sob medida de fazer valer seu passado. Seu presente passou a ter mais vida, mais intensidade. E o que seria o fim?Senão o aplauso da vida para sua grande atuação no tempo.


Quem ousa avançar no futuro, não precisa abandonar seu passado, basta viver seu presente com a maior intensidade que a vida possa oferecer. Não precisa desmentir sua dor, basta saber dá-lhe um significado. O céu reserva várias estrelas, guarde cada lembrança em uma delas, a vida é curta, tão logo faremos parte de alguma estrela perdida a brilhar numa noite para pessoas sentadas em algum banco da vida.

20 maio, 2009

Como se compra um sonho?


Certas coisas nos instigam a pensar se sabemos realmente quem somos. Se uma muralha que é capaz de defender todo um povo poderia sucumbir por não gozar de proteção emocional. Há pessoas presas no seu próprio mundo inundado de paradigmas e disfarces que, por si mesmas, fizeram brotar. Será que realmente sabemos quem somos?

A verdade é que não sabemos quem somos. Nos tornamos meros recipientes de informações; insensíveis, incrédulos, céticos, mas ainda assim, maravilhados com os mistérios. Incapazes de afirmar com veemência a não existência de algo além. Temos nossas dúvidas. Só se deixa de ser vazio como pessoa quando se passa por um choque de realidade. É isso que desencadeia o próprio processo de pensar, intuir, raciocinar, ainda que seja uma inteligência emocional.

Tudo que fugimos ou repudiamos, de alguma forma, se liga a nós. Se fugimos das crenças, passamos a crer. Se receamos a dor e as desgraças, procuramos vê-las aonde existem. Assistimos espetáculos da vida (e da morte), mesmo sabendo que alguns deles não nos farão bem se assistirmos. Somos teimosos; mais que isso, somos curiosos. É quase uma lei: o que mais tentamos esquecer é o que mais trazemos à tona e, de fato, nos recordamos. Somos prisioneiros de nossos medos, angústias, decepções, contratempos; justamente por não sabermos quem somos.

Quando será a hora de se despir das máscaras que nos fazem mecânicos (normais)? Quando aprenderemos a pensar em vez de simplesmente coletar informações e absorvê-las? Vale a pena crescer profissionalmente e decair como pessoa? Quanto vale desistir de viver intensamente por mera avareza, mesquinhez? Quando vamos admitir que temos limites emocionais e que, por mais que aparentemos sermos fortes, somos frágeis?

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Achou esse texto uma viagem? Não entendeu esse método socrático de expor idéias e levar alguém a pensar? Descubram de onde surgiu a minha inspiração: sintam-se convidados a ler o livro "O Vendedor de Sonhos", de Augusto Cury. Esta leitura vai te fazer refletir. E como diz o Daniel, “o livro vai falar com você”. Veja aqui a Sinopse





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Deixo um trecho do livro:


“_Uns têm uma loucura visível e outros, oculta. Que tipo de loucura você tem?
_Eu não. Eu sou normal! – reagiu impulsivamente o profissional de saúde mental. Enquanto isso, o vendedor de sonhos admitiu:
_Pois a minha é visível.

Em seguida, deu as costas e começou a caminhar com as mãos nos meus ombros. Três passos adiante, olhou para o alto e expressou:

_Deus, livra-me dos ‘normais’!”


Agora eu pergunto: Qual o seu tipo de loucura? Deixe-se levar por essa leitura envolvente. A propósito, esse livro foi o meu melhor presente. ;-)