O sonho que se espera é a vontade de que aconteça.(DANIEL NUNES)
Os sonhos, muitas vezes, inquietam por causar certo Déjà vu ou mesmo por trazer questões importantes que algumas pessoas buscam levá-los como um aviso ou fato preste a acontecer. Farei observações que não pretendem ser uma abordagem cientifica, apesar de que caminharei pela linha da coerência. Pretendo, também, entrar em questões um tanto quanto metafísicas. Mas, irei delimitar o sonho aos nossos anseios, seja de pessoas ou de vontades. Sempre buscando trazer à luz de uma boa observação e concatenação de ideias, bom, essa é a minha proposta nas linhas que se seguirão.
Peter Burke em seu livro, A Escola dos Analles, trata da questão dos sonhos em diferentes culturas, através dos tempos, em um pequeno espaço de seu estudo dentro deste livro. Ele chegou a algumas conclusões que os sonhos, na verdade, tem a ver com o meio cultural e o cotidiano das pessoas. Inclusive existe um levantamento de probabilidades de sonhos que vieram a se tornar realidade, menos de 5% vieram a ter esses sonhos concretizados, entre outras palavras: Sonhar nada mais seria, por sua definição de probabilidade, do que um advento do acaso. Essa é a parte que cabe à história, mas ainda existe o lado da psicologia e psicanálise que irão relatar quase a mesmo sentindo, apenas abrangendo questões mais particulares e pessoais.
E o sonho, em seus estudos, é bem delineado em REM e não REM (Rapid Eyes Moviment). E segundos os estudos é na fase REM que se você vier a acordar , certamente, saberá do que estava sonhando. Isso demonstra que os sonhos são objetos de estudos e que a ciência sabe muito bem que eles fazem parte, também, do processo evolutivo de alguns seres. Essa seria uma questão técnica para o sonho e sono fisiológico, mas o grande chamariz dessas questões são os sonhos coletivos( isso para estudos) e os sonhos individuais, esses dificilmente encabeçam alguma explicações cientificas, a singularidade e particularidade muitas vezes são delegadas ao acaso.
Uma vez sonhei que estava num castelo esplendoroso, numa grande festa, as paredes desse castelo tinham tapetes bem bonitos e trabalhados. E muita, mas muitas pessoas dentro desse castelo. Estava ao lado de outra pessoa e conversava com ela. Eu dizia a ela que sabia que aquilo ali era um sonho, engraçado, tinha noção de que estava sonhando, mas a pessoa ao meu lado dizia que não, não era um sonho, que eu poderia tentar acordar pra ver se era verdade. Não sei como, passado um tempinho acordei. Lembro de até achar engraçada a situação e falado comigo mesmo: sabia que era um sonho. Bom, mas o mais interessante estava por vir, ao novamente pegar no sono volto para o mesmo dito lugar e ao lado da mesma pessoa me falando: viu? Não é sonho.
Confesso que até hoje sou encucado com esse sonho e olha que o tive lá pelos meus 14 ou 15 anos. Vejam que alguns sonhos fogem de um padrão explicativo, o desenrolar desse sonho foi com a pessoa me falando assuntos que esqueci. Com o detalhe que tanto a pessoa que eu conversava, como outras que nunca as vi. Qual foi o padrão que o meu cérebro se utilizou para me passar um sonho tão bem organizado?
Também já tive sonhos a experimentar sensações impossíveis para um ser humano. Como o fato de voar sem auxilio de nada, apenas com a vontade mesmo de voar e a sensação experimentada é muito boa, sensação de voar, plainar.
Muitos pesadelos também, sonhos com o apocalipse do mundo, morrendo, sonhos de fugas, de guerras.
Dizem que muitas informações nos são transmitidas hereditariamente. Como muitos medos peculiares que herdamos sem saber o porquê, mesmo que não contenham uma explicação tão cultural. O pior é que nenhuma, ou quase nenhuma, explicação você alcançará através de pesquisas, porque essas questões são batidas e a psicanálise e psicologia possuem um foco muito delimitado para essas questões e o parecer segue um “CID” para cada circunstâncias.
Não é à toa que surgiram muitos ditos “desvendadores de sonhos”, verdadeiros tradutores da aflição alheia. Mas não é de hoje que os sonhos nos inquietam, na bíblia os sonhos desempenhavam um papel importante. Antigos sacerdotes também levavam muito em conta os sonhos. Alias, a maior parte dos sonhos na idade média, sonhada pelos camponeses, era um manjar numa mesa repleta com comidas, vinhos e tudo o mais. Pelo largo período de fome que passavam esses sonhos poderiam ser o senso comum.
Existem sites que trazem “explicações” para os fenômenos dos sonhos. Se sonha com um animal X ou com uma situação Y o site indica um tipo de significado. A meu ver parecem existir aí padrões já percebidos nos sonhos e a melhor explicação seriam os anseios antes mencionados.
Mas os que nos inquietam são aqueles que não conseguimos explicar por não haver nenhuma situação plausível que nos interliguem. A estes sou adepto da seguinte teoria, propriamente teoria minha: que o ser humano é bem mais que um “replicador de genes ou DNA”. Que nós somos grandes elos de informações passadas por gerações e o nosso cérebro um armazenador dessas informações. Que ora ou outra flagramos uma dessas informações deixadas por alguém da nossa cadeia hereditária. Isso explicaria, em partes, alguns sonhos que fogem dos nossos anseios e do nosso meio cultural de época.
Mas, como explicar aquele sonho de acordar e voltar para o mesmo local e continuar a conversa com as mesmas pessoas, tudo bem organizado?
Sei que outras pessoas já tiveram sonhos semelhantes. E para esses sonhos tenho uma explicação, também particular, de que os sonhos não encontram explicações externas, mas internas. O sonho coletivo é aquele que historiadores, psicólogos, psicanalistas tentaram padronizar, mas o sonho individual, esse só pode encontrar uma resposta em nós mesmos. Seja fator pessoal, emocional ou sentimental, o fato é que temos sonhos a fugir dos padrões e permanecerem em nossas lembranças, saindo do reservatório de informações e fazerem parte das lembranças.
Pessoas sonham constantemente. Sonhar, desde que não seja um pesadelo é muito prazeroso. Mesmo que venham carregados de “códigos”. Os sonhos possuem seu mundo à parte. Que situação você poderia rever pessoas que já partiram dessa vida que não fosse num sonho? Aquelas pessoas que você ainda conheceu na infância, viver um amor correspondido no sonho com a pessoa que deseja. Todas essas situações tão agradáveis nos fazem um bem enorme.
Sempre temos sonhos pautados em alguma questão. Quando sonhamos com coisas absurdas, ou de pouca relevância, esses sonhos acabam no esquecimento. Mas quando você tem aquele sonho com morte, com pessoas que morreram, com avisos, com lugares e pessoas que nunca viu, certamente eles nos cobrarão uma atenção, claro, se flagrados naquela fase entre estar acordando e sonhando. Óbvio que em algum momento os sonhos venham como respostas para tantas dúvidas que passamos e que desejamos encontrar uma solução, quase sempre o sonho flagrado refletiria esse nosso anseio.
DOS NOSSOS SONHOS
Com certeza a etapa mais instigante. Não basta só deitar-se e sonhar. Sonhar é tão importante que trazemos para nossa realidade. Todos sonham com algo, geralmente em forma de desejos, sejam de ordem sócio-cultural ou econômico. O fato é que todo o ser é um condutor de sonhos. Viver acordado não é tão paralelo a viver sonhando. Dizem que a pessoa que deixa de sonhar está morta em vida. Quantos mortos estão a caminhar pelo mundo? Qual seria o sonho de uma criança órfã? Qual seria o sonho de quem não tem onde morar? Sonhos cuja interrogação apenas pede a resposta que todos temos noção de qual seja.
Todos sonham com um mundo melhor. Onde as pessoas não exaltem tanto as diferenças, onde os homens convivam em harmonia. Sonham com o fim da fome, fim das guerra, fim das injustiças. Todos querem um mundo melhor, mas esse mundo parece existir apenas em nossos sonhos, porque SONHOS e SONHAR também viraram sinônimos de DESEJAR E UTOPIA. Quem não se lembra do grande discurso de Martin Luther King?
“I have a dream...”
Um sonho de um homem que atravessa gerações lá nos USA. E aqui, quem foi o grande sonhador? Lembro de uma pessoa, sociólogo Betinho que tinha uma campanha de luta contra a fome, mesmo com AIDS (adquirida numa transfusão de sangue) não media esforços para lutar por uma causa nobre. Pouco tempo atrás li um livro, cujo título era: O VENDEDOR DE SONHOS (AUGUSTO CURY). Livro que tinha a temática de resgatar uma sociedade que deixara de sonhar.
Mudanças se relacionam com sonhos. Martin, Betinho eram sonhadores sociais que expunham seus sonhos com uma sociedade igual, justa e democrática. Seus sonhos ainda são compartilhados por tantos outros.
A ousadia de sonhar nos faz diferente. Num mundo de pesadelos, meu maior sonho seria me blindar de todo o mundo e pessoas, para que eu não me contaminasse com seus pesadelos, o pesadelo de deixar de sonhar. Da explicação pragmática, doxa ou episteme, sonhar e sonhos é uma questão humana. Dos anseios ao que se vive na realidade. O sonho que se espera é a vontade de que aconteça. Um sonho para se recordar talvez seja aquele que se queira viver. Um sonho para se sonhar é aquele que nos fazem viver. Espero sonhar com mais intensidade e me desligar das explicações(que não explicam), me deixar refletir sobre a vida e os momentos.