17 agosto, 2008

Um monólogo dialógico


Lembra de quando nos conhecemos? Eu sem saber aonde pôr a cara, sorrindo para alguns rostos conhecidos, mas sentindo como se não houvesse ninguém que falasse o mesmo idioma que eu. Você estava logo ali no canto. De vez em quando soltava gostosas gargalhadas com seus amigos (provavelmente falando sobre mulheres), mas logo retomava ao seu silêncio. Aquele silêncio mais esquisito que eu já tinha visto. Cabeça baixa, olhar focado nas bebidas como se isso fosse a coisa mais interessante do mundo. Parecia estudar minuciosamente cada objeto e não aparentava se importar com o fato de seus “chegados” estarem se entupindo de bebidas e “pegando” todas as meninas. E você estava lá, só que como se não estivesse. Parecia estar esperando algo que eu não descobri o quê era. Não sei por que, quis me aproximar, só que não sabia como. Acabei desistindo e voltando à estaca zero: continuei cumprimentando todos os conhecidos, mas não dialoguei com ninguém. Achei melhor me distanciar daquela multidão de risos e gritos e abraços e beijos e fofocas. Preferi ficar do lado de fora do salão, respirando um ar fresco. E você veio logo em seguida, respirando profundamente, olhando para o céu e... Esbarrou em mim.

_Opa! Perdão!
_Não tem problema. Estava mesmo distraído, hein?
_Sim, estava. Mas tudo poderia ter sido evitado se a senhorita estivesse curtindo a festa. O que leva uma pessoa a ficar isolada assim?
_Não sei, na verdade. Que bom que não sou a única.

Voltamos ao salão ainda constrangidos, mas conversamos sobre tudo que alguém normal não falaria em um ambiente tão descontraído. Você me contava alguns de seus feitos e planos e me fazia rir. Sempre teve essa característica: mesmo sério, me fazia sorrir. Num desses sorrisos, você me beijou. Foi um beijo apaixonado complementado por um abraço aconchegante, daqueles que passam segurança, sabe? Daqueles que o mundo poderia estar se explodindo e eu nem ligaria para nada.

Você nunca admitiu ser romântico ao longo dos anos. E eu adorava o seu romantismo sutil. “Olha... Tinha uma senhora vendendo flores, fiquei com pena e comprei. É... pra você!” E dava aquele sorrisinho cínico/ sarcástico. Em seguida, me abraçava forte e me beijava. Eu dizia que te achava fofo e você fingia estar impaciente e sorria como se eu estivesse louca. Mas eu sabia que você estava tímido e achava muita graça nisso (mas ainda achava fofo). O pior é que quando eu as colocava em um jarro com água, você imediatamente gritava histericamente: “Cuidado! Vai afogá-las!”; e me dava um outro abraço aos risos.

Lembra de quando nosso filho nasceu? Éramos atrapalhados e entrávamos em pânico quando tínhamos que trocar as fraldas. Você colocava um pregador de roupas no nariz e dizia que “esse bebê veio estragado”, “isso é uma máquina de fabricação de coco”, “o seu leite deve estar azedo”. Após esse espetáculo, ainda aproveitava o pregador de nariz para encenar uma nadadora de nado sincronizado, aonde o sofá se tornava uma piscina olímpica. Também falava que o nosso filho seria o homem mais lindo do mundo se tivesse meus olhos, o seu nariz, a sua boca e o seu corpo. E completava: “É claro que os olhos serão a parte mais bonita. Não precisa me olhar feio, fofuxa!” E lá estava a sua sonora gargalhada novamente. (O que me surpreende é que nosso filho tem realmente os meus olhos, e se parece demais com você).

Em datas comemorativas, você e nosso filho (como vocês se parecem!), independente do presente que me davam, sempre os traziam acompanhados de flores. Mais uma vez, você disse que reencontrou aquela mesma pobre senhora que vendia flores e, por pena, comprou. Nada que eu tenha merecido, mas, enfim... Ai, como eu tinha vontade de te beliscar quando você sorria cinicamente. Ainda bem que a vontade de te abraçar e te encher de carinho era muito maior.

Nosso filho cresceu, se formou. Tornou-se o rapaz mais atraente e inteligente do mundo. Aprendeu a ser discreto, educado, carinhoso, independente e adorável como você sempre foi. Ainda hoje, ele me manda flores e diz que encontrou aquela mesma senhora que você ajudava, lembra? Até o cinismo é incrivelmente parecido com o seu. Às vezes olho para ele e imagino você mais jovem. Apesar de que... Jovem você nunca deixou de ser. Aquele seu espírito jovem que tanto me agradava sempre esteve intacto, ainda que tacitamente.

Que saudades!

Hoje, meu querido, sou eu que te mando flores. Não, não fico triste por fazer isso. Traz boas lembranças de uma vida feliz ao seu lado. A gratidão que sinto por tanta coisa que aprendi com você, pela cumplicidade, pelo tanto que você me ajudou nos momentos mais difíceis, nas horas difíceis de serem esquecidas. Mas infelizmente, você partiu sem mim.

Nunca fui religiosa, mas sei que um dia eu vou te reencontrar, cedo ou tarde. Apenas sei disso. Vamos superar essa barreira do tempo e do espaço e vamos nos ver em uma nova dimensão. Não haverá mais saudades de uma vida que se foi. Haverá um novo começo sob um novo ponto de vista. Encontrarei-me em teu abraço e retribuirei aquele seu sorriso indescritível novamente um dia...

Um dia!

10 agosto, 2008

Dia dos Pais

Homem simples como criança que sabe rir e chorar.
Sempre atento aos filhos que ama, elogiando-os e corrigindo-os o quanto for necessário.
Meu pai!
Homem forte e honesto sempre pronto a proteger e animar.
Você é a minha segurança.
Sinto-me feliz e tranquila ao seu lado.
Contudo ele não é santo: tem defeitos, fraquezas, limitações e enganos.

Feliz Dia dos Pais...
Uma simples homenagem aos pais, em especial ao meu. Eu o amo muito e deixo aqui registrado.
Abraços fraternos a todos os pais.