Inicialmente vale destacar que este texto não visa
aludir aos sonhos que temos enquanto dormimos. Esse mistério que permeia a
consciência e o subconsciente não é de minha alçada, embora eu ache
interessantes e curiosas as pesquisas nessa área.
A um amigo que vez ou outra lê meus textos, pedi
sugestão sobre o que escrever. A resposta, para minha surpresa, foi de cunho
muito pessoal. Seu intuito era de que eu expusesse meus pensamentos sobre uma
pergunta de foro íntimo dele, como se assim suplicasse por outros pontos de
vistas sobre questionamentos feitos a si próprio, cujas respostas (também
personalíssimas), por vezes, o faziam despencar do último andar de um prédio a
um piso de concreto.
A questão principal foi: “Por que sonhar?”
Juntamente a esta indagação principal, surgiram
perguntas acessórias concatenadas, de algum modo, a este questionamento
central. Ao menos foi o que minha mente imediatamente assimilou. Ao questionar
o porquê de sonhar, pensei no contrário: por que desistir? São questionamentos
aparentemente adversos, mas que possuem a mesma complexidade para elaboração de
respostas no mínimo plausíveis, mesmo que o subjetivismo destas impere.
Ora, se não há por que sonhar, então não há por que
desistir. Só desiste quem um dia já sonhou. Entretanto, quando pensamos em
parar de sonhar, automaticamente nos remetemos ao fator “desistir”. E desistir
nos faz retornar à estaca zero, à inércia total.
O que quero dizer é que, os sonhos, simples ou
grandiosos, nos movem. Creio que a tendência natural das pessoas é a busca pela
felicidade durante a sua existência. Enquanto em animais o instinto é meramente
de sobrevivência e procriação, no ser humano surge a necessidade de se sentir
feliz e realizado. Muitos suprem suas carências (ressalto que todos temos algum
tipo de carência) de algum modo, seja com acúmulo de riquezas, realização
profissional, formação de família, sentimento de esperança, pelo caráter, pela
fé ou contexto social, e tantas outras hipóteses que eu não ousaria
classificá-las como um rol taxativo. O que percebo é que todos esses fatores
caminham para um mesmo objetivo: se sentir feliz em vida.
Em um livro de Augusto Cury, li uma ideia que me
instigou a pensar sobre a sua lógica. Traduzia-se basicamente no sentido de que
todos ansiamos pela vida, temos fome de vida. E o que o autor usou para
elucidar foi o exemplo dos suicidas. Defendeu que, até mesmo os suicidas, ao
buscarem ceifar suas próprias vidas, simplesmente o fazem por buscar “viver” de
uma forma menos dolorosa; mais felizes. Trata-se de uma luta desesperada e
insana contra a dor, pela vontade incalculável de se sentir mais feliz, eliminando
a fonte de sofrimento.
A partir dessa ideia, retomo o meu posicionamento
inicial sobre os sonhos serem o fomento da felicidade. Sendo o sonho a
engrenagem que movimenta nossa vida em busca da felicidade, sem ele nos fazemos
inúteis, meras máquinas sem sentimentos, sem razão para existirmos.
Naturalmente, a busca pela felicidade enseja a busca por razões que nos façam
felizes, razão para que continuemos a dita jornada, razão para sonharmos. Em
resumo: os sonhos nos estimulam a encontrar o sentido de existirmos, a razão
para agirmos, e nos aproximarmos da felicidade. Não é demais falar que se trata
da fonte para o desenvolvimento pessoal e, ainda, profissional.
Questionamo-nos, por vezes, sobre o porquê de
querermos ser mais fortes, continuarmos travando batalhas, quando o mais fácil
seria jogar tudo para o alto. Pegamo-nos, no entanto, com uma dúvida “adesiva”:
Será mesmo mais fácil desistir e carregar o peso da frustração por não ter
tentado? Muitas pessoas enfrentam dilemas diários, onde são pegos de surpresa
pelo embate entre desistir ou continuar. Se desistirem, terão que arcar com as
consequências da frustração de não terem ido até o final; se prosseguirem,
terão que lidar com o medo da possível frustração por não ter alcançado seus
objetivos da forma como foram idealizados.
Ora, se assim ocorre, denota-se que em um primeiro
momento, ao desistir, a frustração é garantida. Em um segundo momento, quando
se opta por prosseguir, há risco de se frustrar, mas há uma probabilidade igual
de se alcançar resultados satisfatórios. Pelo campo da lógica, fora da análise
da veracidade de tais premissas, é notório que o mais prudente é prosseguir, já
que a chance de que seja alcançado algum resultado satisfatório cresce pela
metade. Eis um novo motivo para não se deixar de sonhar.
Chega-se à duas ideias principais: sonhar instiga a
sair da inércia, aproximando o alcance da felicidade; sonhar aumenta as
probabilidades de que sejam atingidos resultados positivos.
Cabe mencionar a frase da autoria de Eleanor
Roosevelt:
“O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza
dos seus sonhos”.
Alimentar um sonho significa o possível alcance de
resultados, podendo ensejar grandes feitos. Ora, o gênio da física, Albert
Einstein, após reprovar na escola, sofrendo de dislexia, teve inúmeros motivos
para desistir, inclusive barreiras impostas por seus professores. Mas não
desistiu. E o que aconteceu? Uma revolução na Física.
Os sonhos, a meu ver, não são necessariamente
pensamentos utópicos, embora a força da palavra “sonho” possa nos induzir a
pensar em objetivos quase que inatingíveis.
Abrindo mão de qualquer tentativa de exatidão, vale
lembrar que, mesmo que não sejam sonhos utópicos, as coisas não costumam
acontecer necessariamente tal qual planejamos. O cuidado maior que se deve ter
é o de procurar não ser injusto consigo mesmo, não se martirizar. É importante
ter a ciência de que imprevistos acontecem e, por assim serem, surgem para nos
pregar peças.
Se martirizar não é a melhor saída e, talvez, até
atrase a busca por uma vida feliz. O maior problema reside no fato de que
corremos o risco de cairmos em armadilhas que nós mesmos criamos e, sair do
buraco que por muito tempo cavamos é a forma mais brutal para nos
martirizarmos. O fato é que a pior batalha é aquela que se trava consigo
próprio.
Acima mencionei uma frase de Augusto Cury. Acho
válido mencionar este trecho do livro “O Semeador de Ideias”, do mesmo autor:
“Somos todos perdedores. Se não perdemos na vida, perdemos a vida. Os ganhos tornam-nos deuses;
as perdas, humanos. Quem perde com dignidade conquista uma tranquilidade que os
tranquilizantes não podem dar”.
Pertinente afirmar que não devemos nos endeusar
indiretamente, uma vez que não somos perfeitos ou indignos de quaisquer
possíveis falhas. Por isso reitero que a autopunição por não ter alcançado um
resultado não deve ser desmedida, mas sim bem ponderada. Imprevistos podem
acontecer, eventuais distrações, ou fatores independentes. Perdas nos instigam
a querer melhorar, sermos dignos de novas tentativas e auxiliam ao consequente
alcance da paz de espírito para prosseguir na jornada. Não se deve tomar as
perdas como pontos estritamente negativos. Reafirmo o que ficou implícito: até
as perdas nos fazem crescer. E isso significa não abolir os sonhos, o estopim
para a felicidade em vida.
A partir disso, lições são tiradas. Admitir as
premissas de que não estamos em grau de realizarmos algo é o mesmo que desistir
de um sonho. E desistir de um sonho pode significar desistir de se alcançar a
felicidade. Desistir de alcançar a felicidade é o próprio atestado de
infelicidade proveniente da inércia. A felicidade não está só no que temos ou
conseguimos, mas também naquilo que nos esforçamos para conseguir.
O fato de se esforçar para cumprir objetivos, por
si só, já demonstra uma digna vontade de viver e colher prováveis frutos. A
ausência da inércia pessoal pode ser fonte de admiração e, ainda, de superação
consigo mesmo. O mero fato de não “parar” já demonstra grande avanço. Tudo pode
nos servir de aprendizado, ainda que a meta inicial seja outra. Parte de nossos
limites se origina através de autocríticas. Isso nos remete a pensar que somos
capazes de extinguir aquilo que colocamos como limitações.
O caminho para o sucesso depende exclusivamente dos
nossos anseios que criam sentido em nossas vidas e escolhas que fazemos. Traçar
metas, idealizar objetivos ao longo da vida são os primeiros passos para a
realização de sonhos e, no mínimo, trarão crescimento pessoal, independente dos
rumos. Basta querer!
*Dedico este texto ao meu querido e
admirado amigo Allan Mendes.