01 março, 2014

O Último Discurso x Protestos no Brasil

Que Charles Chaplin foi um gênio em muitos sentidos, não resta dúvida. Em “O Grande Ditador”, o ator proferiu um discurso sincero pela liberdade. O que mais chama a atenção é a atualidade do discurso. Ainda hoje, tudo o que foi levantado é reiterado por muitos que buscam e/ ou acreditam em um mundo mais justo e igualitário.

É cabível analogias aos fatos recentes de manifestações populares que têm como foco diversos problemas sociais. Existem apelos de liberdade há tempos no mundo inteiro sobre vários contextos, mas que se assemelham no sentido de serem contra o poder que “escraviza” o povo, que exalta a desigualdade e faz inchar a opressão.

Ressalte-se: as manifestações no Brasil aparentam ter um cunho generalizado, apartidário, que converge à raiz de todas as desigualdades e opressões do sistema como um todo. A centelha que faltava para desencadear essa sequência de movimentos no País foi o aumento das tarifas de transporte público em R$ 0,20 em São Paulo. Foi a gota d’água em um recipiente já saturado. Sabe-se, nitidamente, que o movimento não se limita a essa questão. Mais do que isso, é notório que a problemática não se finda somente em um aumento de vinte centavos.

Sob o prisma do desencanto político-social, temos problemas desta natureza comuns em vários países, os quais endossaram suas manifestações populares em escala global.  Nessa esteira, é possível traçar um paralelo com este trecho do discurso:

Os homens que odeiam desparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo.


Tal trecho faz menção ao fato de que o detentor da força é o povo unido contra todas as formas de opressão. Possível fazer alusão ao quadro de Delacroix, já mencionado em uma outra abordagem deste blog, cujo título é “Liberdade Guiando o Povo”. Caso queiram saber o contexto, cliquem aqui.

Em um salto histórico, hoje vemos o Brasil se erguendo, momento em que o povo resolve mostrar sua voz, ir às ruas. Uma luta por melhores condições sociais, para que o Estado cumpra devidamente o seu papel. Uma luta em prol da segurança, saúde, educação e, por que não dizer, pela dignidade da pessoa humana constitucionalmente prevista? Vive-se, neste país, sob um regime de exploração, inclusive tributária, onde o brasileiro trabalha cerca de cinco meses somente para pagar impostos e demais tributos. A violência político-social é escancarada!

Até então vimos que tentam nos empurrar goela abaixo a política do “pão e circo”, mas não há qualquer possibilidade de que isso seja acatado eternamente, embora o interesse da minoria dominante seja de que tal política se perpetue. Pode-se relacionar essa ótica ao regime absolutista que mais tarde desencadearia a Revolução Francesa. Em outras palavras, todo tipo de opressão, camuflada ou não, tem limites e faz com que o povo se rebele contra os abusos.

Destaco outro trecho da cena “O último discurso” do filme “O Grande Ditador”, o qual demonstra que a ideologia do Estado é aquela que segrega o povo em classes, sob a ótica de uma falsa democracia que exclui a sociedade, restando ao povo se unir para combater essas mazelas a ele impostas:

“Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo… um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice. É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.”

O dia 17 de junho de 2013 ficará marcado pelo dia em que o povo brasileiro, independente de fronteiras, se uniu para entoar um grande grito de liberdade. Descartando problemas pontuais passíveis em quaisquer manifestações em massa, o grito preso há tempos na garganta finalmente explodiu! Hoje vemos o País despertar, o que se reflete na busca pela liberdade contra os abusos que por tempos têm sido seu maior fardo. E o que se espera é que esse ritmo de protestos continue e ganhe cada vez mais força.

A luta pela Liberdade, em suas aplicabilidades e contextos, é legítima. Algo que deve ser reiterado, algo que sirva de inspiração para gerações presentes e futuras. Chega de abusos!

Tendo por base o já exposto, sugiro que assistam ao vídeo abaixo.  Para cada ato injusto que prive à sociedade em algum sentido, existirá uma reação, mesmo que tardia. A conclusão ficará a cargo de cada um!


*Texto escrito com a colaboração do historiador Daniel Nunes.

* Texto de minha autoria originalmente publicado no blog Diversidade Convergente.